José Lemos*
Há quem acredite que esperar e esperançar são verbos equivalentes. Não o são. Esperar é ficar parado, inerte, deixando as coisas acontecerem. Verbo na “voz passiva”. Esperançar está na “voz ativa”. Significa almejar, buscar, agir, lutar por objetivos… Esperançar é ter resiliência, capacidade de reunir sinergias para superar obstáculos.
O parágrafo inicial serviu para dar o tom das reflexões que eu gostaria de apor neste texto. Um texto em que me permitirei fazer uma viagem no tempo. Uma dúzia de anos. Período em que aconteceram muitas coisas. Para o bem e para o mal.
Em fevereiro de 2005, o então Governador José Reinaldo, me apanhou por via telefônica na minha casa em Fortaleza, por volta das 20:00. Estava refestelado ouvindo música numa rede, como maranhense e nordestino que me orgulho de ser. Naquela ligação ele me convidava para fazer parte do seu Governo. Ele queria que eu o ajudasse a melhorar os indicadores sociais e econômicos maranhenses.
Pedi um tempinho para lhe responder, porque naquele momento eu estava só em casa. Eu precisava conversar com as pessoas da minha família e outras do meu convívio acerca da pertinência de eu aceitar aquele honroso convite. Ele me deixou um contato e disse que eu poderia ligar direto para ele, independente do horário.
Pela meia noite e meia eu liguei de volta aquiescendo ao convite. Assumi a Secretaria em 5 de março. Antes, a pedido dele, eu já havia ajudado a desenhar o Programa de Desenvolvimento Integrado do Maranhão (PRODIM) que seria financiado pelo Banco Mundial, mas que precisava da aquiescência do Senado da República.
Eu preparei um programa emergencial que apresentei, junto com duas pessoas que me ajudavam naquela Secretaria de Planejamento Estratégico: Os Professores Miguel Roeder da UEMA e Cursino da UFMA/SEBRAE. Em junho lançamos os programas que seriam destinados a incluir maranhenses em serviços de água encanada e saneamento. Dois dos grandes gargalos que faziam a esperança de vida dos maranhenses ser baixa e, em decorrência, o IDH ser o menor entre os estados do Brasil.
Naquele ano preparamos um documento, com a ajuda dos colegas da UEMA e da Associação do Semiárido (ASA), que mostrava que o Maranhão tinha ao menos 46 municípios no Semiárido. Documento feito às pressas para aproveitar a visita do então Ministro da Integração (Ciro Gomes) ao Maranhão. O Governador o entregou em mãos. Uma cópia foi enviada pelo Governador à então Ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva. Ambos os Ministros sequer submeteram o nosso documento à apreciação do Conselho Deliberativo da então ADENE, e recebemos o primeiro e rotundo NÃO.
Em fim de março do ano seguinte, em torno de 22:00, eu estava voltando para casa depois de mais um dia extenuante de trabalho. Ao volante da Caminhonete da Secretaria de Agricultura eu recebi um telefonema do Governador me convocando para eu ir naquele momento ao Palácio que ele estava me esperando e queria conversar.
Dirigi-me para lá. E ele me falou que estava me convocando para assumir a Secretaria de Agricultura. Tomei um susto. Claro. Aquela Secretaria tinha o terceiro maior orçamento e capilaridade em todos os 217 municípios maranhenses.
No meio daquela perplexidade, em segundos eu fiz uma viagem na minha história de vida. Eu sabia o tamanho da responsabilidade. Olhei firme para ele e disse que aceitava o desafio. Mas “impus uma condição”. Disse-lhe que a “condição” era, além dos meus afazeres na Secretaria, eu queria elaborar e executar um projeto Piloto-Experimental de recuperação da mata ciliar do nosso rio maior: Itapecuru. Um sonho de Acadêmico. Um Esperançar que não via como alcançar estava ali. Ao meu alcance.
Zé Reinaldo tomou um susto. Acho eu que ele esperava que a minha demanda fosse para nomear um séquito de assessores. Ele concordou, não sem antes lembrar que não havia recursos, tendo em vistas que o orçamento havia sido definido no ano anterior. Mas se comprometeu a garimpar verbas de onde fosse possível. E fez assim.
Convoquei dois ex-orientados para serem meus assessores, um Professor da UEMA que já prestava serviço à Secretaria, um ex-Colega do Liceu, Doutor pela USP, Professor da UFMA, e uma Agrônoma Alemã que trabalhava naquelas bandas, desenhamos o projeto. A ALUMAR forneceu 3000 mudas. Contamos com o entusiasmo das crianças e jovens das escolas de Codó. No dia 5 de junho de 2006, Zé Reinaldo e eu, no meio de uma multidão, plantamos as primeiras mudas daquele projeto. Aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida. Planejamos recuperar 6 hectares e, ao final, com o mesmo orçamento de pouco mais de R$250 mil, recuperamos doze (12) hectares.
Na minha cabeça continuava martelando a ideia de ajudar a colocar os municípios maranhenses no Semiárido. Os colegas da UEMA sempre juntos. Mas sempre nos deparávamos com obstáculos federais. Inclusive os mais inusitados.
No próximo 6 de novembro conjugaremos de novo o verbo Esperançar. Participarei de uma conferencia nacional organizada pelo Ministério da Integração, em que mostrarei um trabalho do nosso LabSar, em conjunto com os colegas da UEMA, que ancora o pleito do Governo do Maranhão para adentrarmos ao Semiárido. Nesta dúzia de anos, jamais esperamos. Sempre esperançamos. Almejo que consigamos. Para tanto precisamos contar com o Esperançar dos políticos e da imprensa maranhense.
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*Professor Titular. Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará. Texto publicado em 29/10/2017