José Lemos
A língua inglesa é fascinante. Pragmática, tem muitas construções singelas. Na prática qualquer substantivo pode virar um verbo. A língua, que teve em Shakespeare um dos seus grandes arquitetos no seu domínio escrito, tem algumas armadilhas. Algumas delas são os “idioms” (expressões idiomáticas) que podem criar problemas e levar os menos avisados a fazer interpretações equivocadas.
Quando o Presidente Barack Obama dos EUA referiu-se, num típico inglês americano (que tem algumas diferenças em relação àquele falado na Inglaterra), com dedo indicador em riste, ao então Presidente brasileiro, Lula da Silva, usando a expressão “This is the Guy” (“Este é o Cara”, em tradução livre, mas perigosa, tendo em vista que Guy também significa rapaz, ou alguém desprezível), a mídia oficial e regiamente paga do Brasil, tomou aquela expressão como um elogio. Na avaliação dela (imprensa chapa branca), Obama estava dizendo que Lula era diferenciado para melhor. Vivíamos, como até maio deste ano, momentos de intensa propaganda, elogiando os feitos do operário que lograra chegar ao poder (ajudei a elegê-lo no primeiro mandato) e, nos bastidores, os “mensaleiros” agiam turbinando o seu projeto de poder infindo. Contudo, a expressão de Obama, e a forma como ele a emitiu, mostram que havia enorme ironia. Os americanos, regra geral, não costumam se derreter em elogios fáceis, principalmente para quem não vêem motivação para tanto. Apenas quando reconhecem mérito, competência, e talento, não se envergonham em reverenciar. Mas para que isso aconteça, algo de excepcional precisa ser feito e mostrado. O que não era, e jamais foi o caso, do operário Presidente. O adjetivo deve preceder o substantivo. Não por preciosismo no uso da língua, mas pela figura envolvida no enredo.
Aquela fala passou a fazer parte das peças da propaganda oficial do governo, numa demonstração evidente de subserviência. A mensagem que queriam nos impor era: ora, se Obama, o homem mais poderoso do planeta, referiu-se ao Presidente do Brasil como “O Cara”, então ninguém mais poderia contestar. Infelizmente para eles, há milhares de brasileiros que não são monoglotas. Muitos viveram naquele país e conhecem algumas sutilezas da forma como é falada a língua de Lennon & McCartney.
As pesquisas de opinião, feitas sob encomenda, mostravam níveis de aprovação, somente atingidas pelo então Presidente José Sarney, no auge do engodo do Plano Cruzado. Quem viveu naquela época lembra bem. Aliás, Sarney e Lula à medida em que o tempo avança estão ficando bem mais parecidos. Não se trata de mero elogio que é motivos de lisonja para ambos, mas de constatação das convergências de princípios. Há uma identidade incrível entre eles. Como todos os amigos fraternos, também tiveram os seus momentos de rusgas. Nada que impedisse, como se vê agora, que mantenham laços muito fortes de afeição e de trocas de elogios recíprocos. Lula disse que Sarney não era um ser comum e, portanto, precisa ter tratamento diferenciado, segundo ele. Demonstração maior de fraternidade não é mais evidente.
Num golpe de esperteza, em 2007, “O Cara” fez lobby para trazer a Copa do Mundo para o Brasil em 2014. Não satisfeito, trouxe também as Olimpíadas para 2016. Não sem antes prometer que não seria gasto um único centavo dos nossos impostos para bancar as obras faraônicas que a FIFA exigiria. Esperto (justificando o epíteto dado por Obama), viu que a Copa no Brasil em 2014, ano de eleições, seria a sopa no mel para o seu desejo de voltar ao poder. Para concretizar o projeto pessoal, começou a inventar “postes” e torná-los nossos dirigentes, com o aval da mídia regiamente paga e com um programa de “financiamento de campanhas com recursos públicos” jamais visto neste País varonil. Para Governar o Brasil escolheu, a dedo, a “Gerentona” que ocuparia o espaço para que ele pudesse cumprir a quarentena antes de voltar depois de o Brasil conquistar o hexa-campeonato. Para ele, entendido de futebol como acredita ser, isso seria favas contadas e a população estaria agradecida. Feliz e ufanista vestiria o verde e amarelo. Com peitos estafados cantaria o Hino Nacional, que viraria o símbolo do poder estabelecido e, claro, sufragaria o seu nome nas urnas em outubro de 2014. Apoteose!
Tudo meticulosamente planejado. Mas esqueceram de combinar o “script”, com os jovens e com a verdadeira classe média. Não aquela inventada no governo dele, endividada com crédito consignado. Incensados nas “Redes Sociais”, armados com cartazes e palavras de ordem, inundaram as ruas, e escolheram como esportes favoritos, além do futebol, vaiar as autoridades. Tanto que todas elas (inclusive ele, o “Cara”) saíram de circulação. Acharam bem mais prudente ficarem no conforto das suas poltronas assistindo aos jogos da Copa das Confederações. As tais pesquisas, que antes davam exorbitância de boa avaliação, despencaram. O Governo entrou em parafuso. A população brasileira finalmente despertou e viu que tudo o que era mostrado na propaganda oficial não passava de empulhação. Estávamos muito infelizes e tentavam nos convencer do contrário. O Mundo assustado também descobriu que aquele paraíso turbinado por propagandas artificiais dos trópicos não passava de uma enganação que eles compraram com real desvalorizado e inflacionado. Ainda bem que descobriram. Obama tinha razão. “This is the Guy!” Eu complemento: “Steel being!”. (Continua sendo!).
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*Artigo publicado no dia 24/08/2013.