José Lemos
Naquele longínquo e caloroso 2/12/1972, há exatos 47 anos, 67 jovens, a maioria recém saído da adolescência, receberam solenemente o tão sonhado Diploma de Engenheiros Agrônomos e de Engenheiras Agrônomas. Parece que foi ontem.
Todos devidamente vestidos a caráter de “smoking” preto, blusa branca rendada e gravata também preta do tipo “borboleta”. Familiares testemunhando aqueles momentos intensos de emoções. Alguns de nós não nos contivemos e ficamos com os olhos marejados (meu caso). Muitos Pais e Mães também não conseguiram segurar os prantos. De alegria! Era a certeza que tinham de que uma etapa das trajetórias das suas crianças estava sendo ultrapassada e que, a partir dali, haveria uma longa estrada a ser percorrida pelos garotos e garotas que criaram com tanto carinho.
Nós sabíamos da enorme responsabilidade que tínhamos de não decepcioná-los. Aquilo significava que deveríamos nos desdobrar para fazer com que os ensinamentos técnicos, de postura ética e de decência que os nossos Mestres nos passaram teríamos de tomar como parâmetros para ancorar as nossas decisões no futuro. Todos nós tínhamos os olhos brilhantes, corpinhos adequados para a faixa etária, rostos de meninos e de meninas, e as mentes repletas de projetos para o futuro que começava ali.
As moças da turma eram poucas, mas muito talentosas e estudiosas. Muito Bonitas que, em minoria numérica, estavam naquele grupo, majoritariamente masculino, para nos ensinar que não apenas homens poderiam exercitar a nossa profissão com competência. O tempo depois nos mostrou que elas estavam repletas de razões. Uma daquelas meninas era a maranhense que fazia parte do grupo dos 9 maranheneses que, honrosamente, também colamos grau naquela turma.
A nossa turma tinha alguns caras com bons visuais. O Júlio Barriga era o nosso Galã. Mas tinham outros que também faziam parte dessa galeria. Entre esses estavam o Barroso, Redig, Joaquim, Tupinambás (nosso Orador), Roberto das Chagas. Ohashi e Kato, ambos com os seus olhos amendoados, deveriam despertar bastante atenção das garotas. Não esquecer os sucessos que faziam com as meninas o Jair, o Cardoso, o Carlos Augusto, o Luis Alberto (Castanhal) e o Airton que, além do visual, era músico e deixava as garotas encantadas com o seu enorme talento de saxofonista. Havia mais caras de boa aparência na nossa turma. Deixo para os colegas a tarefa de citar outros.
Gonzagão falava: “Eita Sertão das Muié Bunita. E de Caba Feio Também.” Com as meninas da nossa turma de Agronomia, o nosso Pai foi Generosíssimo ao provê-las de visuais encantadores. Peço a elas que debitem essa minha ousadia, depois de tanto tempo, à emoção de está escrevendo um texto para todos nós, em que tento apenas buscar algumas reminiscências de tantas que tivemos juntos.
Dos ‘Cabas Feios’ da turma eu não vou falar. Mas preciso destacar um. Um cara que era introvertido demais. Observava muito. Falava pouco. Alguém que ia para as nossas festas no Restaurante da EAA e que, antes de ir prá lá, tinha que tomar alguns tragos para ter a coragem de convidar uma garota para dançar, já sabendo que a resposta dela seria um rotundo não. Os que me honrarem lendo este texto saberão que estou falando de mim. Mas nem pensem que tenho alguma mágoa por isso. A vida é assim: alguns com tantos e muitos com tão poucos. Eu fazia parte desse último grupo no item sucesso com as garotas.
Na nossa turma todos tinham bom caráter. Mas tinha um Cara que era diferenciado. Religioso, não participava das brincadeiras mais “picantes”. Sempre tinha o ar sereno. Reflexivo, respeitava a religião majoritária da turma. Esse Cara é o Raimundo Freire. Figuraça que sempre mereceu o meu respeito e apreço. Tenho certeza que ao falar assim todos os colegas da nossa turma assinarão em baixo. Grande Freire!
Havia alguns craques nas nossas peladas. Rui Chaves era o melhor. Mas tinha o Antonio Carlos (Amoroso), Olinto, Dinaldo, Joaquim, Ohashi, Kato, Olegário… Havia o Roberto que fechava o Gol e o Filgueiras, que tinha muita força de vontade. E só. Eu “enganava” ali pelo meio do campo. Sem muito talento.
Somos de um tempo em que tínhamos a garantia de que poderíamos chegar de madrugada em casa sem correr o risco de sermos assaltados ou violentados. Sabíamos que se fizéssemos o que era o nosso dever: estudar muito, não nos meter em grupos de agitadores, nada nos incomodaria. Nenhum de nós teve problemas com o que era chamado de “as forças repressivas” de então.
Em março deste ano fez 50 anos que nos encontramos pela primeira vez. Todos de cabeça raspada. De boinas azuis claras. Pena que alguns colegas não sobreviveram para lembrar conosco tão importante data. Onde estiverem, estarão vibrando por nós. Para eles devemos mandar as nossas orações. Para as suas famílias, palavras de apreço.
Era uma vez alguns garotos e garotas muito empolgados que escolheram um profissão na qual fizeram bonito. Todos nós demos colaborações importantes para o avanço da agricultura da Amazônia, do Nordeste e do Brasil.
Recebam todos vocês, garotos e garotas, o meu abraço fraterno. E a minha admiração e respeito.
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*Texto para homenagear os meus e as minhas colegas de turma que estão vivíssimos (as), extensivo às suas famílias, bem como para nos lembrar dos colegas que já se foram, partilhando com as respectivas famílias as boas lembranças que nos deixaram enquanto estiveram conosco.