José Lemos
No dia 29 de abril faz sete anos da morte, aos 97 anos, de John Kenneth Galbraith, um influente economista nascido canadense e que se naturalizou americano. Graduou-se em Ciências Agrárias no Colégio de Agricultura de Ontário, sua cidade natal, e fez Mestrado e Doutorado em Economia na Universidade da Califórnia, USA.
Galbraith foi uma das mais influentes personalidades mundiais no século passado. Teve uma produção intelectual invejável, dos quais a de maior destaque é o livro “A Era da Incerteza”, que virou seriado na televisão, teve tradução para muitas línguas, adaptação para programas de rádio. Nesse livro, Galbraith avalia as incertezas decorrentes da “guerra fria” de então, dos conflitos étnicos, religiosos, da crise de fome na África, América Latina. Uma obra imperdível para quem quer se aprofundar nos fatos econômicos históricos marcantes. Quem não tem pretensões maiores em avançar em economia, mas apenas tem uma postura de simples curioso nesta fascinante ciência, caso deste escriba, também pode tirar proveito inestimável, sorvendo cada um dos capítulos dessa obra fantástica.
Este longo preâmbulo foi para tentar situar a era da mediocridade que tomou de assalto recentemente o Brasil, Argentina, Venezuela e Bolívia, para ficar apenas na América Latina. Brasil e Argentina experimentaram regimes de exceção em que havia cerceamento de liberdades, censura à imprensa. Regimes militares exageradamente fortes em que os Ditadores da ocasião se utilizavam dos eventos que anestesiam os brasileiros, para tirar proveito, e fazer crer que tudo ia bem, exatamente como acontece hoje. Para isso contavam com uma população extremamente passiva, que se contenta com uma conquista de copa do mundo, ou com o carnaval, que atuam como morfina. Mas havia focos de resistência. Destaque para as universidades, artistas e aos movimentos estudantis. Havia políticos do calibre de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Mário Covas, Thales Ramalho, Marcos Freire, Miguel Arraes, Brizola e os vivíssimos Pedro Simon, Fernando Henrique Cardoso e José Serra, que lideravam a oposição ao regime e que, incensados pela vontade popular, tiveram grande participação naquele que foi a maior manifestação democrática do Brasil recente: “Diretas-já” de 1984, abortada pelo Congresso Nacional, sempre de costas para os interesses brasileiros e de frente para os interesses eleitoreiros dos seus membros.
Quando aconteceu o que deveria ser a redemocratização os brasileiros experimentaram momentos de muitas esperanças. Jamais imaginaríamos quem seriam algumas das figuras que emergiriam. Não havia mais a desculpa de serem impostos pelos militares, mas pela “vontade popular”. De cara, tivemos que aturar a “Nova República”, cujo titular é bem conhecido pelos brasileiros. O grande legado desta fase foi uma inflação mensal de 86% com estagnação econômica. Na primeira eleição direta para presidente da República, foram para o segundo turno os dois piores candidatos que a disputaram: Lula e Collor, numa pleito que tinha Ulysses, Brizola e Mário Covas concorrendo. Collor ganhou depois de uma campanha de grandes baixarias de ambos candidatos. Mas teve que ser apeado do poder devido às práticas indignas levadas para dentro do Governo.
Em seguida tivemos dez anos de Governantes sérios, que começou com Itamar Franco. Homem de formação intelectual limitada, tinha uma característica que deveria ser regra, mas que hoje tornou-se exceção no Brasil, sobretudo entre políticos: ser honesto.
Itamar teve a sabedoria de autorizar o então Ministro Fernando Henrique Cardoso a contratar uma equipe de excelentes economistas que conseguiram nocautear a inflação, e abrir caminho para uma fase virtuosa de progresso. Tudo arrumado, era hora de experimentar o dito Governo de “esquerda” (assumo a minha culpa, pois eu ajudei a elegê-lo). O presidente eleito logo mostrou que estava empavonado e despreparado para o cargo. Desandou a fazer e a falar bobagens. O seu maior projeto foi comprar um avião importado, decorá-lo suntuosamente, para usufruí-lo em intermináveis (e repletas de volúpias e luxúrias, sabe-se agora) viagens sem qualquer interesse para os brasileiros.
Sem qualquer escrúpulo, apropriou-se do programa de transferência de renda, herdado do Governo anterior, que os seus seguidores de hoje dizem que reduziu as desigualdades no Brasil e combateu a pobreza. Realidades que as estatísticas do IBGE insistem em negar. Elegeu, segundo sua própria definição, um “Poste” para lhe suceder. Uma mulher que construiu fama de mandona, mas nomeou Ministros em quem não confia. Tenta resolver situações catastróficas, como o flagelo provocado pela seca no Nordeste, utilizando-se de eventos caros e suntuosos, em que anuncia medidas “salvadoras” que se resumem à contratação de mais carros pipas e à distribuição de algumas escavadeiras para prefeitos de municípios densos em população. Iniciativa que não foi casual. Nesses municípios estão as maiores quantidades de votos. Por que perder tempo com os pequenos municípios que tem os maiores problemas, mas tem menos votos?
Galbraith, que escreveu a era da incerteza, caso ainda estivesse vivo e desejasse produzir outra obra de impacto, teria excelentes matérias primas no Brasil, Argentina, Venezuela, Bolivia… de hoje para escrever “a era da mediocridade”.
=========
*Texto publicado em 20 de abril de 2013.