José Lemos
Quem estudou Agronomia apreende, entre tantos outros ensinamentos, que uma semente de boa qualidade encontrando condições adequadas de umidade e calor, germinará e produzirá um vegetal que poderá ser de diferentes portes: herbáceo, arbustivo ou arbóreo. Mas as condições adequadas de umidade e calor não são as mesmas para todas as sementes. Também por isso que existem as Ciências Agronômicas que eu tive o privilégio de abraçar na fase tenra da minha vida. Assim, estamos diante de uma ciência complexa e de grande relevância para a humanidade.
Contudo, o ato de cultivar parece ser banal para quase todos os que exercem outras profissões. Quase todos acreditam que sabem como plantar e colher. Essa distorção já começa com a famosa carta de Pero Vaz de Caminha: “Nesta terra, em se plantando, tudo dá!”. Estava dada a senha. Que nos causaria uma quantidade incrível de mal-estar. Para além de prejudicar o mercado de trabalho dos profissionais de Ciências Agrárias, os únicos que tem formação para dizer o que, que em plantando, dará.
Mas há outras “semeaduras”, essas sim, bem mais próximas do infeliz vaticínio do Pero Vaz de Caminha. Não porque produzam árvores, madeiras úteis, fibras ou frutos saborosos… Mas porque, quando “germinam”, produzem “ervas” que poderão danificar a vida de milhões de pessoas.
E estamos em plena época desses “semeios”. Jogam-se todos os tipos de “sementes”. Todas elas com elevado “poder germinativo” porque “semeadas” em ambientes que são amplamente ocupados por “solos” que “as aceitam” sem muito questionamento. Precisando apenas que lhes sejam jogados apenas algumas “migalhas de irrigações” retiradas de fontes que foram perfuradas pelos próprios “beneficiários”.
Estou me referindo às promessas dos candidatos a todos os cargos. Quase todos “semeiam” promessas de todos os tipos. Todos dizem ter o domínio dos “solos”, do “clima”, das “condições naturais” para que as sementes que querem plantar “germinem” e produzam “frutos” para aqueles que “colherão” os resultados… Os incautos eleitores.
Tem candidatos que querem se eleger a alguma vaga dos parlamentos estaduais ou federais (deputados e senadores) que dizem que sabem como “semear” para que os eleitores possam usufruir no futuro. E aparece cada tipo de promessa e de “semeador”!
Há candidatos aos cargos de governadores dos estados que querem desbancar os atuais detentores da confortável cadeira. Para isso apontam todas as mazelas que eles, os opositores, identificam e dizem que estando no poder mudarão. Para melhor.
Os atuais governadores que, assentados nas poltronas dos Palácios em que estão como inquilinos (eles não consideram assim), dispõem de uma lustrosa caneta que usam para “buscar” todo e qualquer “fertilizante” que acharem necessário para a continuidade do seu “roçado”. Usam despudoradamente a máquina administrativa para o seu objetivo. Dizem que querem mais quatro anos para realizar o que prometeram fazer quatro anos atrás. E não fizeram. E há quem acredite que farão.
Há candidatos a presidente que prometem zerar as dívidas dos seus eleitores. Em primeiro de janeiro de 2019, logo após a posse, os seus CPF não constarão mais nos cadastros de inadimplência. Que maravilha!
Ha também candidatos a presidente da República que prometem resolver, por decreto, o problema da desigualdade de renda gritante que existe no Brasil. Eles sabem que ninguém é contra redistribuir renda. Desde que não seja a sua. Resolve-se isso com educação de qualidade. Mas isso não interessa. Demora demais.
Mas acham que farão, taxando ainda mais quem trabalha e produz. Irão pelo discurso mais fácil, o do Pero Vás de Caminha. Os que votarem neles acreditarão que isso de fato acontecerá. A distância entre a sua renda e aquela que gostariam de auferir desaparecerá. Basta o “semeador” subir a rampa do Planalto.
Mas ainda há a alternativa de “distribuir renda” mediante as transferências via qualquer uma dessas bolsas que estão por ai. Terreno fértil para os “semeadores” que se dizem de esquerda, tanto em nível federal como nos estados. Como não são bobos, convocam para “plantar” no seu “roçado” “semeadores” de todos os ideários ideológicos. Afinal as “plantas” que eles apostam que surgirão não perguntarão quem as “semeou” ou de onde veio a “água” que as “irrigou”. Entram num verdadeiro “vale tudo”. Não dizem, propositadamente que, para existir qualquer tipo de bolsa, tem que haver quem pague impostos. “Nós-sinhos aqui” Mas eles fazem crer (e os incautos acreditam) que isso só acontecerá porque o dinheiro a distribuir será deles quando sentarem naquela cadeira de presidente ou de governador.
E assim eles conquistam os instrumentos para “cultivarem” os pomares que lhes serão fontes de riqueza, poder, ostentação, ter gente para lhes bajular. A renda continuará desigual. A vida remanescerá difícil para a grande maioria que seguirá “colhendo frutos ácidos e/ou podres”. E assim será enquanto os “semeadores” forem esses que aí estão. Em maioria esmagadora, com raríssimas exceções. Difícil será identificar essas exceções para fazer uma aposta. Mas temos que tentar. Não dando certo, em quatro anos os mandaremos para onde não deveriam ter saído: ostracismo. Somente nos resta esta alternativa…
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*Texto para o dia 22/09/2018.