José Lemos
Sábado passado, 15 de outubro, Dia do Professor eu escrevi um artigo que fazia referencia àquela data. Deve ter havido algum problema de Editoração no O Imparcial, de modo que no lugar onde deveria aparecer aquele texto foi colocado um escrito pelo sociólogo e Professor Emir Sader.
Fiquei chateado de não ver o meu artigo publicado, que tentava mostrar a importância da educação para o desenvolvimento. Contudo, avaliei que os leitores do Jornal poderiam se beneficiar lendo um texto de um Professor de outras paragens, embora eu tenha ficado intrigado com o titulo do artigo: “É o Social, Estúpidos.”
O conjunto da obra do Professor Emir é respeitável, mas isso não o isenta de receber criticas, sobretudo num texto que, na minha avaliação, foi escrito sem conexão com várias evidencias disponíveis e que podem ser avaliados por quem tiver um treinamento em analise estatística que nem precisa ser avançado.
Ele começa falando do prestigio de Lula. Eu não confundiria popularidade, grande parte dela conquistada devido a um forte, aparato midiático, pago por nós, com prestigio. Prestigio envolve outras qualidades, em que a respeitabilidade é imprescindível. Respeitabilidade que se conquista com postura ética, com lisura, com sabedoria, com conhecimento. Essas qualidade o Lula nunca teve ao longo dos seus mandatos tanto como Deputado como Presidente, e agora eu tenho minhas duvidas se as teve algum dia.
O eminente sociólogo também se refere ao governo argentino. Segundo ele, lá como aqui, há saltos sociais inquestionáveis. Daí chamar de estúpidos, no titulo do seu artigo, qualquer um que discordar dessa posição. Esta me parece ser uma postura, no mínimo deselegante e, mesmo intolerante, do professor para com aqueles que pensem de forma divergente à sua.
O Professor e Sociólogo fala em governos neoliberais que teriam antecedido àquele que começou em 2003. Segundo a sua avaliação, naqueles governos estavam o cerne dos problemas brasileiros. Ora, os fundamentos da política macroeconômica do governo Lula foram os mesmos da era FHC. Casos houve em que o governo Lula foi até mais ortodoxo. Como a retenção de recursos para a formação do superávit primário (bombardeado por Lula e seu partido quando era oposição). Uma política monetária fortemente restritiva, que manteve os juros nas alturas. Metas de inflação (também combatidas quando os mentores do governo Lula eram oposição) e regime cambial flutuante. Todas essas medidas foram corretas, daí a estabilidade monetária ter-se mantido. As privatizações, também execradas no passado, não foram revistas, felizmente. Agora serão ampliadas. Ou seja, o governo Lula “surfou” num conjunto de medidas adotadas no governo que lhe antecedeu, sobretudo a estabilidade monetária, para fazer um governo medíocre, tendo em vistas que os indicadores sociais, ao contrario do que pensa o professor Emir, retroagiram, como demonstrarei mais na frente, e a riqueza do País se elevou em bases modestas, mesmo comparando com países em igual patamar de desenvolvimento.
Depois o Professor fala numa “direita” que, segundo ele, tenta não reconhecer o que ele acredita terem sido “avanços sociais” do governo Lula. Eu, que sempre militei na esquerda, não consigo enxergar viés de esquerda num governo que teve aliados de peso, influentes e decisivos como José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá, Michel Temmer, Collor de Melo que “evoluiu” da condição de ser inimigo número um a companheiro de primeira hora. Esses não são os únicos, são apenas os “notáveis” ou os “incomuns”, como ele os identifica.
O próprio Lula, antecipando-se à postura do recém re-criado PSD, disse que não era de esquerda, de direita nem de centro. Como o partido de Kassabi, o que lhe interessa é o poder pelo poder. Os meios, quaisquer que sejam eles, justificam os fins. Ademais, como pode ser considerado de esquerda um governo que sobretaxa os seus aposentados e pensionista, cuja maioria recebe aposentadorias conquistadas ao longo de uma vida inteira de trabalho, cujos valores estão bem aquém daquela que ele, Lula.recebe que está isenta de tais sobretaxas? Sobretudo quando se sabe que a sua aposentadoria não foi conquistada devido a trabalho árduo, coisa que ele não sabe o que significa.
Vejamos então quais foram os “avanços sociais” da era Lula que o Professor Emir mostrou desconhecer no seu texto. A escolaridade média no Brasil, que é fator decisivo para o desenvolvimento, em 2002 era de 6,5 anos. Em 2010 não passou de 7,8 anos. O Brasil conseguiu a façanha de em oito anos avançar apenas 1,5 anos na escolaridade média dos seus filhos. Os analfabetos em 2002 representavam 11,5% da população maior de dez (10) anos. Em 2010º percentual de analfabetos naquela faixa etária era de incríveis 10%. Uma redução de apenas 1,5% em oito anos. A população cresceu naquele período a um percentual bem maior da ordem de 7,6%. Portanto, em 2010 havia mais analfabetos do que em 2002.
A população brasileira que morava em domicílios sem esgoto sanitário, ou fossa séptica (que substitui o esgotamento com sucesso nas áreas rurais) em 2002 era de 26,6%. Em 2010 havia aumentado para 27,3%. Por isso a incidência de doenças como leptospirose, diarréias e outras que tem como vetor a promiscuidade.
Em relação à população que sobrevive em domicílios cuja renda varia de zero a dois salários mínimos, a situação é mais confortável. No começo da era Lula, 32,5% da população brasileira sobrevivia em domicílios sob aquelas condições. Em 2010 havia ascendido para 35,5%. Isto sugere que pessoas que estavam em estratos mais elevados “migraram” para aqueles segmentos situados nos estratos de menores rendas. Um resultado que mostra claramente que o programa “bolsa família” não cria condições para as pessoas se libertarem, mas para votarem e darem popularidade ao seu líder. Talvez este seja o “Programa Social” a que o Professor se refere no seu texto e chama de “estúpido” quem não entende as suas razoes, que são as mesmas do governo que passou e que prossegue com outra mentora, mas com os mesmos fundamentos, inclusive de denuncias acerca de malfeitorias causadas por pessoas posicionadas em postos chaves de governo, todas advindas da gestão passada.
A pergunta que fica é: de que lado está a estupidez? Do lado daqueles que avaliam as evidencias com base em estatísticas oficiais, ou com quem o faz assentado em preceitos ideológicos ou em fundamentos que não se sustentam nas evidencias?
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*Artigo publicado em 22-10-2011