José Lemos**
Quando fizemos os movimentos de ruas por este Brasil, cujo ápice aconteceu em março do ano passado, em que queríamos retirar a então inquilina do Palácio do Planalto, não tínhamos muitas expectativas de que haveria mudanças significativas.
Nas entranhas do consórcio, que detinha o poder, estavam as figuras que assumiriam os postos de comando com a sua derrocada. A incompetência administrativa, a irresponsabilidade fiscal, a leniência com os recursos públicos, foram validados e referendados pelo Vice, bem como pela patota que assumiu o poder junto com ele. As criticas que fizeram depois, quando viram que o barco que jogaram ao mar, tendo uma comandante incompetente, adernava foram oportunistas. Eles a conheciam e sabiam que dela não poderia sair algo diferente. Avaliaram, com a condição de se darem bem, o projeto de poder de Lula que objetivava voltar quatro anos depois.
Neste mesmo espaço eu escrevi um texto cujo titulo era “Quem é Temer jamais será Itamar” em que eu mostrava as diferenças abissais entre os caráteres de dois homens públicos que assumiram o poder em circunstancias politicas parecidas.
Enquanto Itamar encarou com altivez os figurões da época, não pactuou com corrupções, demitiu Ministros sobre os quais se jogavam lampejos mínimos de luzes insinuando algum tipo de deslize, Temer nomeou para o seu primeiro escalão figuras sobejamente conhecidas pelas folhas corridas, como diria o jornalista Augusto Nunes.
Por causa disso teve que demitir alguns contra a sua vontade. As situações deles ficaram insustentáveis. Mesmo neste Brasil que tudo tolera. A última situação assim aconteceu com um dos seus homens fortes. O baiano de quem o Brasil todo sabe possuir um passado que o torna pernicioso até para tomar conta de uma barraca de venda de verduras e frutas de um pobre agricultor que trabalhou meses sob sol escaldante, enfrentando falta ou excesso de chuvas, que tivesse a desventura de lhe convidar para exercitar aquela atividade por um dia sequer em que ele, o agricultor, estivesse privado.
Possuir em nome de terceiros (“laranjas”) apartamentos, sítios, fazendas, carrões importados, iates, aviões, obras de arte, joias, é comum em quase todos os que tem algum tipo de poder ou negociam com os poderosos, via licitações viciadas. Além, claro, do uso de cartões corporativos que utilizam para comprar desde o prosaico beiju, como chamamos no Maranhão, como fez um ex-Ministro do Governo Petista que se diz Comunista, a combustíveis para os seus carros particulares, refeições em restaurantes de luxo, sempre regadas a vinhos importados e/ou bebidas sofisticadas.
Este é o Brasil que vivenciamos todos os dias. E tudo isso acontece de uma forma tão “normal” que já nos acostumamos. Alguns, ou talvez muitos, de nós até lamentam não está na pele desses figurões para também se locupletar.
Quando Dilma Roussef convocou o “Bessias” para ser o portador do documento que iria nomear Lula para ser o seu Ministro Chefe da Casa Civil, com o objetivo claro de lhe prover fórum privilegiado, eu a imprensa livre, e todos os brasileiros de bem denunciamos. O Poder Judiciário não teve opção. Barrou a nomeação.
Ao assumir a Presidência Temer prometeu que iria diminuir o número de Ministérios. Fez algumas mexidas cosméticas. Contudo, a máquina administrativa continua pesada, apesar do discurso oficial de que precisa se conter gastos.
A PEC 55, sobre a qual eu escrevi texto neste espaço falando da sua importância para aquele momento, parecia sinalizar algo diferente. Ledo engano!
Neste 03/02/2017 Michel Temer acaba de nomear mais três Ministros. De fato criou mais dois Ministérios. Mas não parou ai. O seu amigo dileto Moreira Franco foi inicialmente nomeado para uma função administrativa no seu Governo. Sem “status” de Ministro de Estado.
Como começaram a vasar informações de que o amigo estava citado na “Delação do fim do Mundo”, que envolve políticos de todas as matizes partidárias (no Brasil não se pode falar em matiz ideológica, porque quase todos são movidos pela “ideologia” de ficar ricos no poder), o que o Presidente fez? Exatamente o que Dilma houvera feito. Concedeu-lhe status de Ministro para não ser alcançado pelo temido e correto Juiz Sergio Moro, na eventualidade de se confirmarem as denuncias.
E Temer é o mesmo que se aposentou, está cercado de Ministros que se aposentaram, com cinquenta e poucos anos e quer agora fazer com que os brasileiros e as brasileiras se aposentem aos 65 anos, e mofem por longos 49 anos pagando previdência social para receber aposentadoria que apenas será igual à média de salário no primeiro ano. Posteriormente as aposentadorias se reajustarão a um ritmo mais lento do que os salários. Claro que precisa fazer algo para evitar a derrocada da Previdência. Mas isso não pode ser feito por gente com esse perfil. A não ser que eles devolvam aos cofres públicos todo o montante que receberam a partir do momento em que se aposentaram até completarem 65 anos. De outra forma, não tem condições de fazerem essa proposta. E eu não falo em causa própria. Somente me aposentarei do serviço publico compulsoriamente, ao completar 75 anos, que espero alcançar. Faço por onde.
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Texto publicado no O Imparcial do dia 04/02/2017
**Professor Titular e Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará.
1 Comentário
Pelo menos poucos partidos, solicitaram ao STF a impugnação deste ato vergonhoso da nomeação de verdadeiros bandidos, para escaparem da primeira instância (Sérgio Moro). Vamos aguardar.