José Lemos*
Os leitores desta coluna já devem ter ouvido falar sobre “os concurseiros”. Palavra que foi incorporada ao nosso vocabulário, mas que ainda não está registrada oficialmente nos Dicionários. No geral um “concurseiro” é uma pessoa que tem como principal meta passar em concurso público e assim se torna um servidor público.
Em geral são jovens que sacrificam parte desta importante (e irresgatável fase da nossa vida) para estudar horas, noites adentro mergulhados em livros, apostilas, apontamentos… Frequentam cursinhos especializados, pagando com o suado e difícil dinheiro que conseguem amealhar. Em geral, são egressos de famílias humildes que vislumbram nessa possibilidade a chance de ter uma vida com um mínimo de dignidade.
A estabilidade que os servidores públicos têm, justamente para não ficar a mercê dos humores das figuras que administram o Brasil, é um grande atrativo para os jovens. Ao contrário do que alardeiam os que estão no poder, os seus asseclas e com grande eco na imprensa, os salários da grande maioria dos servidores públicos não são diferentes dos que são pagos aos trabalhadores da iniciativa privada. E estes tem FGTS, a maioria de nós não tem isso, justamente por causa da estabilidade. Uma permuta.
A estabilidade é o fator que conta bastante na decisão. Imagine-se, se não fosse assim, o que nos fariam os Temer’s, Lula’s, Dilma’s, Marun’s e tantos outros, para liberar espaços para os seus amigos e seguidores viverem à custa dos cofres públicos.
Os empregados públicos (que não são servidores públicos, mas de quem os empregou) é que são bem remunerados. São aqueles que não se submetem a qualquer avaliação de competência. Suas credenciais para ocuparem as vagas são: serem parentes, amigos, cabos eleitorais do politico ou do poderoso de ocasião.
Quem também tem remuneração privilegiada no setor público são os 81 Senadores, 513 deputados Federais, as centenas de Deputados Estaduais, os milhares de vereadores, Prefeitos, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, o Presidente da Republica. Privilégios têm os Juízes, tanto que os salários deles servem de referencia para os salários do setor publico em que aqueles que foram “concurseiros” dificilmente conseguirão alcançar ao longo de toda uma vida de dedicação como servidores público.
É essa gente, ao contrário de nós outros que fizemos concursos impessoais, que define as próprias remunerações. Dizem quanto irão ganhar. E, mais do que isso, tem previdência social diferenciada, férias diferenciadas, regime de trabalho diferenciado e todo um aparato estatal para lhes prover privilégios: auxilio moradia, auxilio transporte, verbas de representação, emendas parlamentares, recursos para fazerem ligações telefônicas…. Ufa! Tudo pago por nós que trabalhamos duro para lhes sustentar.
Os “concurseiros” pagam caro os cursinhos em que se preparam. Para se habilitarem a fazer concursos públicos tem que ter uma formação escolar mínima. Um “concurseiro” que tenha chances de galgar uma das vagas terá que ter ao menos 17 anos de escolaridade. A escolaridade média do Brasileiro não chega a nove (9) anos. Se o “concurseiro” buscar uma vaga de Docente numa Universidade Publica, terá que ter títulos de Bacharel, que lhe consumirá ao menos 5 anos. Terá que possuir Mestrado concluído (pelo menos mais 2 anos) e Doutorado também completado (ao menos mais 3 anos). Esse “privilegiado” terá escolaridade de pelo menos 27 anos. Trabalhará outros 35 fazendo pesquisa, formando novas gerações, e se aposentará aos 62 anos se conseguir conectar todos os treinamentos numa sequencia ininterrupta. Ou seja, esta será a idade mínima para aposentar-se.
Um detalhe que é sutil como elefante andando em joalharia fina. Nós, os servidores públicos, para assumirmos as funções que conquistamos com a nossa competência, depois de longo período de abstinência das coisas boas que estavam lá fora na nossa juventude, precisamos passar por um rigoroso pente-fino dos órgãos policiais que verificarão os nossos antecedentes criminais. A nossa folha corrida. Havendo qualquer deslize no nosso passado não assumiremos o cargo publico.
Será que o Presidente da Republica, o cargo máximo a que alguém pode chegar no serviço público, passaria por um único desses rigorosos exames a que nós, os “concurseiros” tivemos que nos submeter para assumir as vagas que conquistamos?
No momento em que eu escrevo este texto, vejo na imprensa que ele nomeou para ser Ministra do Trabalho uma senhora que tem pendencias, vejam só, justamente em querelas trabalhistas. E que, caso ela assuma, o Deputado que irá para a sua vaga esteve preso recentemente por envolvimento em casos de pedofilia.
E se fizermos um levantamento na folha corrida dos Deputados e Senadores, justo esses que dizem que querem acabar com os nossos “privilégios”, se vivêssemos num Pais sério, em vez de estarem tomando qualquer decisão que afete a vida de quem trabalha com decência, eles estariam aonde devem estar o que eles aprontaram.
Ora, Senhor Presidente, antes de nos chamar de “privilegiados”, olhe em seu entorno. Num País decente, gente com o seu histórico jamais chegaria aonde o senhor chegou. Agradeça aos seus pares o fato de ter nascido no Brasil.
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*Primeiro texto do ano de 2018. Para o dia 06/12/2018