José Lemos
Ainda pelos bancos do Liceu, em pleno regime militar, nós fazíamos quatro anos de ginásio e três anos de Científico. Havia três áreas ao nível de científico no Liceu: Ciências Humanas (para quem queria fazer curso de Direito, Letras, Sociologia…), a de Ciências Exatas (para quem queria seguir as engenharias) e a de Ciências Médicas, para quem queria fazer Medicina, Odontologia, Farmácia e Bioquimica. Esta última foi a minha opção, embora sempre gostasse de estudar matemática. Eu tenho um colega, na verdade quase irmão, Heliomar Scrivner Furtado, que estudava comigo. Devoramos todos os exercícios de álgebra, trigonometria, geometria analítica de então. Resolver os exercícios pesados do livro de Álgebra do Sinésio de Farias nos deixava muito felizes.
Por aquelas épocas eu já me interessava em ouvir as crônicas escritas pelo Jornalista Bernardo Coelho de Almeida, que eram lidas na voz empostada e bonita de Fernando Sousa.
Universitário, na então Escola de Agronomia da Amazônia, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia, entre as obrigações de acadêmico empolgado que eu era, eu encontrava tempo para fazer leituras extracurriculares. Inclusive de textos de jornais.
Tendo concluído o Mestrado, passei a acompanhar a Turma do Pasquim. Um jornal alternativo que tinha como proposta fazer resistência ao regime militar. E lá estavam alguns dos jornalistas que me ajudaram a pensar um Brasil Alternativa com viés de esquerda. Jaguar, Ziraldo, Henfil, Millôr Fernandes, foram alguns deles.
No verso da primeira página, do Jornal do Brasil, tinha a “Coluna do Castelo”, escrita pelo jornalista Carlos Castelo Branco, nordestino do Piauí que fez história naquele espaço. Leitura obrigatória de quem queria entender a conjuntura politica do Brasil. Muito inteligente e perspicaz, Castelinho (como era conhecido) escrevia tentando driblar os limites que eram impostos pelos Censuradores de plantão.
Naquele período de dificuldades políticas eu tive o privilégio de ler crônicas do Sérgio Porto, que usava o pseudônimo de “Stanislaw Ponte Preta”. Numa época em que não tinha computadores, se escrevia com máquinas de datilografar, Stanislaw Ponte Preta criou a sigla FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assolam o País), que continua atualíssima, em plena época em que não existem mais máquinas de datilografia e a comunicação é instantânea. A tecnologia avança, mas continuamos como republiqueta de bananas (com todo respeito a essa fruta que é a minha primeira refeição diária).
Inspirado na sigla que criou, Sergio Porto escreveu a música “Samba do Crioulo Doido”, que ficou famosa no canto afinado do grupo paulista Demônios da Garoa. Certamente, se a música fosse lançada hoje, seria censurada pelo FEBEAPA da vertente esquerdopata e idiota do “politicamente correto”. Sergio Porto, e os Meninos dos Demônios da Garoa, poderiam até ser processados e presos por racismo.
Em 1984, recém-concluído o meu Doutorado, eu escrevi um texto que saiu das formalidades acadêmicas, embora estivesse forjado nelas. Chamei-o “Os Dois Brasis”. Estava ancorado na teoria do Dualismo Tecnológico Dinâmico, que era um dos capítulos importantes de quem fazia estudos aprofundados em Economia Rural, dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente, onde eu fiz os meus treinamentos. Sem muitas pretensões enviei-o, no começo de uma semana de abril daquele ano, para a redação do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. Na época o texto era enviado impresso.
Qual não foi a minha surpresa quando vi no sábado o meu artigo publicado na segunda folha do Jornal do Brasil, depois do texto do Castelinho. Uma gloria! Ali eu comecei a “carreira” como “articulista” de jornais.
E já escrevi muitos deles. Teve uma época aqui em Fortaleza que praticamente toda semana eu tinha um texto publicado no O Povo. No Maranhão escrevi textos para os três jornais do estado: Estado do Maranhão, Jornal Pequeno e O Imparcial.
Eu tinha uma frequência boa de publicações no O Imparcial quando, no começo de abril de 2004, o Jornalista Raimundo Borges, Diretor do Caderno de Opinião me sondou acerca da possibilidade de eu escrever aos sábados para o Jornal. A contribuição seria voluntária. Como, aliás, foram as publicações de todos os meus textos de jornais. A única exigência que eu coloquei foi a de ter a liberdade de escrever sobre os temas que eu queira, e abordá-los da forma que me aprouver.
Sei da enorme responsabilidade que é colocar um texto num Jornal, sobretudo quando tem a relevância de um O Imparcial. Por isso, eu procuro sempre ter a certeza das informações que passarei nos textos. Escrever artigos de jornais, um dos meus vícios, é um ritual que começa com a semana. Fico antenado nas noticias, nos fatos, e escolho um para abordar. A maioria das vezes é difícil escolher porque há muitos temas interessantes e eu tenho que me focar em apenas um. Qualquer sábado desses, eu falarei sobre o ritual que eu sigo para colocar textos inéditos todas as semanas desde abril de 2004 . Já se vão 728 textos só neste espaço. Se a minha conta não estiver errada!
Isso somente é possível graças à generosidade de um público que lê o que eu escrevo semanalmente. Alguns me confessaram que o fazem com fidelidade canina. Fico feliz em poder expor ideias e submetê-las à reflexão dos meus conterrâneos. Isso é deveras gratificante. Muito obrigado à Direção de O Imparcial e aos meus leitores.
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*Texto para o dia 28/04/2018.
2 Comentários
Belo texto professor.
Meu caro Diego.
Grato pelo comentário.