José Lemos*
Os dias 15 de outubro foram separados para reverenciar os Professores brasileiros. Por esta razão eu resolvi escrever nesta semana um texto que tenta fazer o resgate da importância deste ser anônimo nas nossas vidas, mas que marca muito.
Mais do que profissão, o professor investe-se num verdadeiro sacerdócio. Antes de transmitir conhecimento, o professor é sempre aprendiz. Tem que estudar a vida inteira. Diferentemente da maioria das outras profissões, a lide do professor não para quando deixa o espaço físico que é o seu ambiente de trabalho na escola. Sempre leva para a sua vida privada um monte de atividades que imagina serem necessárias para que os seus estudantes, a sua disciplina, as sua pesquisas, avancem.
O Professor é figura marcante nas nossas vidas. Principalmente na fase de formação da personalidade quando ainda somos crianças e adolescentes. Para ser justo, todos os professores que tivemos, uns mais e outros menos, influenciaram a nossa vida.
Eu tive Professores dos quais eu nunca irei esquecer. No curso primário, no Grupo Escolar Almeida Oliveira, que fica em frente à Igreja de São Pantaleão, eu tive duas professoras marcantes para mim. “Dona Maroca”, uma senhorinha que parecia não ser deste mundo. Muito religiosa, sua indumentária lembrava a da imagem de Nossa Senhora de Fátima. Falava mansamente no meio daquele monte de garotos peraltas. Eu no meio. Domava a turma com o seu jeito suave de “santa”. Ali também eu tive a “Dona Valda” como Professora. Então bem jovem e bonita. Com mais energia, conseguia ter um domínio sobre a nossa turma, de forma distinta da “Dona Maroca”. Lembro que ela casou enquanto era nossa Professora e logo engravidou. Acompanhamos praticamente toda a sua gravidez, porque os professores ficavam o ano inteiro com uma turma. Uma gravidez que a fez mais enérgica, mas não escapava dos nossos comentários porque, como decorrência do seu estado, ela cuspia muito.
No velho Liceu maranhense para onde fui depois de prestar exame de admissão, eu tive professores fantásticos. No pique dos meus quatorze anos, havia uma professora de Português de quem eu me apaixonei. Imagina! Por causa daquela paixão recôndita, eu me sentava nas carteiras bem em frente dela, ansioso por uma cruzada de pernas mais generosa que às vezes acontecia sob aquelas saias curtas e eu ia à loucura. Ficava feliz e ruborizado todas as vezes em que ela fazia algum comentário na aula se dirigindo para mim. Mas eu temia que ela sequer desconfiasse do que eu sentia. Estudei demais as categorias gramaticais: sujeito, pronome, verbo, adverbio, preposição, conjunção, interjeição… “Tirei de letra” para tentar impressioná-la. Não consegui. Evidentemente!
Havia um professor de Inglês, já idosinho, que ia dar aula de paletó naquele calorão de São Luis. Detalhe, as salas não tinham ventilador nem ar condicionado. Professor excelente que se incomodava com as letras e os ritmos muito “pesados” e com as aparências dos cantores da época. Os Beatles estavam no pique, e a televisão (a TV Difusora) mostrava as imagens ainda em preto e branco dos rapazes de Liverpool “afrontando” os bons costumes, com aquelas cabeleiras. Os principais colégios de São Luís gravitavam em torno da Praça Deodoro. Ali também estava a Biblioteca Pública, então com rico acervo e local obrigatório para todos nós frequentarmos por orientação e “imposição” de quem? Dos professores, claro!
“Dona” Maria de Jesus Carvalho era a professora de Geografia. Uma espécie de mãezona para todos nós. Assim que nós a encarávamos. Desta forma que ela queria ser tratada. Bem cedinho, três vezes por semana, tínhamos aulas de Educação Física com o Professor Luís Aranha. Disciplina obrigatória que sempre terminava com uma gostosa “pelada” na quadra do Colégio. Para quem sempre foi “boleiro”, como eu, aquelas aulas, naquela hora da manhã, longe de ser sacrifício, funcionavam como lenitivos.
Contudo, dois professores foram definitivos na decisão que eu tomaria depois para o meu futuro. Os Professores Ivaldes, de Álgebra, e Sued, de Trigonometria. Essas duas “Figuras” me fizeram gostar de matemática. Depois, quando decidi fazer vestibular para a Escola de Agronomia de Belém, no cursinho do Professor José Maria do Amaral, encontrei o Professor Afonso do Amaral que era médico, mas sabia tudo daquela matemática que era cobrada nos difíceis vestibulares da época. O Professor Afonso contribuiu definitivamente para eu consolidar o meu gosto pela matéria. O meu irmão mais velho, que já trabalhava no Banco do Brasil, atendeu ao meu pedido e comprou o livro de Álgebra do Sinésio de Farias. O “sonho de consumo” de todos os garotos que gostavam de matemática então. O meu sonho também havia se concretizado.
Nas Universidades por onde andei também encontrei professores que me marcaram. Quando decidi ser Professor internalizei que deveria seguir os exemplos de todos os que passaram pela minha vida. Óbvio que ainda falta muito para eu conseguir ao menos lhes imitar. Como ainda não tenho condições de fazer assim, os homenageio e digo a todos eles, aos que estão vivos e aos que já se foram: Muito Obrigado!
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 17/10/2015 e no Jornal Pequeno do dia 18/10/2015.