José Lemos*
O atual mandato da presidente com menos de um mês já conseguiu várias façanhas. Uma delas foi montar o pior Ministério da História Republicana do Brasil. Embora pareça que o maniqueísmo esquerda-direita esteja démodé nestes anos depois da queda do Muro de Berlim, ainda há segmentos sociais, colegas meus da Academia incluídos, que insistem na manutenção do dualismo. Na última campanha a candidata que ganhou as eleições, usando a máxima de que os meios (quaisquer que sejam) justificam os fins (o poder), assentou-se nesta dicotomia.
Foi falado na campanha que fora do governo de “esquerda” que está no Brasil há doze anos, o resultado seria uma “direita neoliberal” ávida por retirar o que eles chamam de ganhos sociais. Ganhos esses restritos à transferência de renda, corroída pela inflação que eles recrudesceram, para mais de 50 milhões de infelizes brasileiros que, infelizmente, dependem dessa esmola para sobreviver. Incrementar este número, na cabeça da candidata-presidente e do seu partido, seria ganho importante. Talvez por isso fizeram com que entre 2011 e 2013 os analfabetos brasileiros maiores de 15 anos fossem incrementados em aproximadamente meio milhão, conforme pode-se constatar a partir dos dados da PNAD / IBGE daqueles dois anos. Mas não apenas isso, o acesso ao saneamento ficou estagnado acompanhando o PIB brasileiro no período.
Os juros elevados que, a candidata disse na campanha seria a arma mortífera da oposição para subjugar os pobres aos banqueiros, foram anunciados mal as urnas se fecharem. O “tarifaço”, que seria outro instrumento do saco de maldades da oposição, está aí sem qualquer cerimônia, embora a Presidente não tenha tido a coragem de aparecer em público para pedir desculpas à população que votou nela. Preferiu terceirizar a informação para o seu Ministro da Fazenda sobre quem incidem todos os riscos das medidas. Ela lavou as mãos e foi para a Bolívia. Quem não votou nela, como eu e mais de 80 milhões de brasileiros, sofreremos na pele os resultados da desastrada administração. Não foi por falta de aviso. Muitos como eu, nos esgoelamos na tentativa de mostrar o que seria o desastre de uma nova administração dessa gente. Não precisava ser vidente para antever o que viria se eles continuassem no poder. E houve superação para um governo que se diz de esquerda, tendo Helder Barbalho e outras figuras no seu comando. Elevou os juros para a compra da casa própria por parte da classe média. Congelou a tabela de imposto. Nos obriga a cobrir os buracos dos desmandos que fez com o nosso dinheiro, num período em que o País bateu recordes de arrecadação. Nunca se viu administração com tanta sequencia de equívocos. Não há um único acerto. E o País insiste em permanecer deitado em berço esplêndido.
As contas de energia elétrica disparam logo no primeiro dia do novo mandato, também em decorrência da forma desastrada com que o setor foi administrado ao longo destes doze anos de pesadelo. Os investimentos na ampliação na capacidade de produzir energia no país ficaram estagnados ou foram mal feitos. Obras mal planejadas. As hidrelétricas estão sendo construídas contando apenas com a bondade divina nos mandando chuvas. O que parecia impossível aconteceu. Ela conseguiu nomear um Ministro de Minas e Energia pior do que o anterior. Na falta de conhecimento na área, esse senhor desanda a falar bobagens, falar frases decoradas, diz asneiras e “terceirizar” a administração das hidrelétricas à Divindade. É o fim! As termelétricas movidas a diesel e a gás que foram concebidas apenas para usos emergenciais, agora se constituem quase na principal fonte de energia do país.
No aspecto de geração de energia, novamente estamos na contramão do que se faz no mundo. Enquanto lá fora se incentivam as usinas de pequeno porte que utilizam energia solar e eólica, fontes limpas, não poluentes e seguras de geração de energia. Aqui no Brasil depende-se de termelétricas poluentes, ineficientes, que dependem de combustível fossilizado, boa parte importado. Mas a Presidente é coerente com o que ela pensa (o perigo mora exatamente ai, no que ela pensa). Ela disse em plena reunião das Nações Unidas que o problema ambiental estava no desenvolvimento sustentável.
No Nordeste que praticamente garantiu a sua eleição e reeleição, a obra de transposição do São Francisco se arrasta indefinidamente, desperdiçando recursos e a nossa paciência. Nós que vamos entrar agora no quarto ano seguido de deficiência hídrica. A sensação que passa é que estamos numa aeronave desgovernada voando em céu turbulento. Salve-nos Bom Deus!
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 24-01-2015