José Lemos
Neste cinco (5) de junho comemorou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. A rigor todos os dias deveriam ser dedicados para cuidar mais do planeta em que vivemos e que, nós os seres humanos, diferentemente de todos os outros seres vivos (animais e vegetais), nos esmeramos em destruir. Interessante que nos jactamos de inteligência e de capacidade de discernimento superlativo, quando comparados aos demais habitantes do planeta e, de forma contraditória, somos nós, não os outros também ocupantes temporários e efêmeros deste espaço terrestre, o seu maior depredador.
As atuais catástrofes climáticas em que chuvas torrenciais destruíram cidades em Santa Catarina e Espírito Santo, e que nesta quadra chuvosa chegou com fúria ao Nordeste e ao Norte, decorrem do destrato que cotidianamente prestamos ao planeta mãe. Maranhão, Piauí, Bahia, Pará, Amazonas, principalmente tiveram milhares de seus habitantes desalojados pela invasão das águas nas suas casas. Relevante observar que essas catástrofes sempre subjugam os segmentos mais pobres, exatamente aquelas famílias que, por falta de melhores condições, precisam alojar-se nas áreas de riscos que se formam no entorno das cidades de diferentes portes.
Nada disso acontece por acaso. Uma das primeiras lições apreendidas quando se estuda as teorias do desenvolvimento econômico é que a causa primária do caos urbano em regiões pobres é justamente a falta de desenvolvimento do setor rural. Por desenvolvimento rural entendam-se as famílias que escolherem livremente para residirem nessas áreas disporem de áreas minimamente necessárias para extraírem a segurança alimentar e a renda monetária que lhes garantam viver com dignidade. Alem disso precisam ter instrução e, como decorrência, ter acesso às informações que lhes possibilitem explorar as suas áreas com tecnologias que não agridam as matas ciliares dos aqüíferos de superfície, tão pouco desmatem as encostas dos morros. Tenham acesso ao conhecimento da interação entre os seres vivos com o solo que é fundamental para o exercício da exploração sustentável deste recurso natural.
Não ter desenvolvimento rural, significa as famílias rurais não disporem de terras suficientes para se sustentarem através de atividades agropastoris, se acharem ser esta a sua vocação. Não disporem de assistência técnica que lhes mostre como devem explorar as suas áreas e por isso praticarão agricultura predatória que mais cedo ou mais tarde as expulsarão para os conglomerados urbanos. Sem a qualificação adequada para exercer atividades nesses centros, que por sua vez já dispõem de infraestrutura saturada, serão sub-remuneradas e empurradas para as áreas criticas e de riscos dessas cidades.
A destruição das matas ciliares dos aqüíferos de superfície irá alargar-lhes as margens e reduzir-lhes a coluna d’água. Em ambos os casos, quando houver chuvas acima das médias e caindo de forma concentrada em poucos dias, como acontece na presente quadra chuvosa, irá provocar estes impactos que estamos assistindo, com irmãos nossos sendo desabrigados, ceifando vidas, e perdendo casas e outros bens materiais conquistados com muitas dificuldades ao longo da vida.
Há saídas técnicas, mesmo em estados pobres como o Maranhao, bastando apenas vontade política e determinação para tomar iniciativas que possam ajudar na reversão desse quadro a médio e longo prazo. Foi com um compromisso assim que no dia 5 de junho de 2006 o então Governador do Maranhão José Reinaldo Tavares lançou um programa de recuperação da mata ciliar do Rio Itapecuru, entre os municípios de Timbiras e Codó. Aquela sempre foi uma das demandas das populações ribeirinhas e que o Governador teve a sensibilidade de atender, ainda que de forma piloto, porque se tratava de experiência inusitada que precisava primeiro de testes. Por causa do projeto se constituir em demanda antiga daquelas populações houve o seu efetivo engajamento e participação, de tal sorte que aconteceu um fato incomum. Em geral, as obras públicas requerem aditivos financeiros bem antes de serem concluídas. Não entrando no mérito da lisura desses aditivos, naquele trabalho o “Aditivo” foi diferente. Com recursos bastante limitados, face ao endividamento do Estado, foi planejado recuperar, de forma experimental, seis (6) hectares de matas ciliares, sendo três (3) hectares em cada margem do rio. O Governo não contava com o engajamento decisivo da população e com a participação da ALUMAR que doou 1.200 mudas de espécies nativas. Resultado, a área recuperada dobrou, indo para seis (6) hectares em cada margem, num total de 12 hectares recuperados, sem que fosse “aditivado” um único centavo sequer a mais alem daqueles recursos inicialmente previstos para o projeto.
Os resultados foram tão expressivos que até o final daquele ano, a grande demanda na então Secretaria de Agricultura (que havia planejado, mas executado conjuntamente com as Secretaria de Assuntos Estratégicos, Meio Ambientes e de Planejamento) foi para recuperação de matas ciliares de praticamente todos os rios e riachos maranhenses. Ali foi plantada, literalmente, uma experiência de respeito ao meio ambiente. Fica o registro para reflexão e, quem sabe, alguém se lembre e tente fazer outro projeto com finalidade parecida. Caso haja sentimentos de ciúmes ou outros tipos de pruridos, que deixem de lado e ancorem-se as preocupações no interesse público. O fundamental é fazer algo para que não se deixe a natureza continuar a ser devastada e termos que voltar a exercitar apenas atos de compaixão, espécie de reconhecimento de mea culpa que leva a lugar algum, e que, embora humanitários, provocam constrangimentos para quem os recebe e para quem os faz. Afinal “uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão”.