José Lemos
O Dia Mundial consagrado ao Meio Ambiente é celebrado neste cinco (5) de junho. Uma data simbólica, tendo em vistas que em todos os dias do ano deveríamos estar preocupados com o destino do nosso planeta. Isto, infelizmente, ainda não acontece, e estamos transformando a vida na terra num exercício de alto risco.
Em 2006, no dia cinco de junho, o então Governador José Reinaldo lançou um programa piloto-experimental de recuperação da mata ciliar do Rio Itapecuru. Aquela sempre foi uma reivindicação das populações ribeirinhas desse rio e de todos aqueles que sabem da importância dos rios para a vida na terra, sobretudo quando se trata de um gigante que irriga as vidas de milhares de maranhenses, e jorra diariamente parte das suas águas nas torneiras de mais da metade dos domicílios da capital do estado.
O programa contou com o apoio decisivo das populações dos municípios de Timbiras e Codó que se “apropriaram” da idéia e tudo fizeram para ajudar na preparação e no plantio das mudas. O plano inicial da então Secretaria de Agricultura do Governo do Maranhao em parceria com a Secretaria de Assuntos Estratégicos era recuperar seis (6) hectares que serviriam de efeito demonstração para as futuras ações que deveriam recuperar todo o percurso do rio. O entusiasmo e o envolvimento das populações daqueles municípios, que incluiu os jovens estudantes de escolas públicas, foi tamanho, que a área plantada foi o dobro da projetada. Em vez dos seis (6) hectares previstos, foram plantados doze (12) hectares de espécies florestais. Tudo foi feito com o mesmo montante de recursos. Um fato raro, um projeto de governo não precisar dos famosos aditivos que encarecem e encolhem as obras publicas. Em vez disso, com o mesmo recurso, o projeto inicial se multiplicou por dois em área plantada.
Naquela tarde-noite de terça-feira vivenciaram-se momentos de grande emoção. Na minha carreira como acadêmico que, por aquela ocasião estava no exercício de um cargo executivo, foi algo inédito. Não deu para segurar a embargo na voz e a lubrificação excessiva dos olhos ao presenciar momento tão significativo.
O Governo acabou em 31 de dezembro e, o mínimo que se esperava era que houvesse continuidade de ações como aquela. Afinal o projeto não era propriedade de quem quer que fosse, nem tinha objetivos de catapultar carreira política de ninguém. Mas o que se viu foi que o projeto foi completamente abandonado.
Soube-se de iniciativas que diziam buscar a recuperação do Rio Itapecuru. Eu ficava na expectativa, à distancia, de que aquela experiência que era a única até então, pudesse ao menos servir de ponto de partida. Sabíamos que aquilo era apenas uma pequena (ainda que importante) iniciativa que poderia ser ampliada. Até porque o estado ainda tem uma bacia hidrográfica ampla, mas que experimenta, no geral, problemas semelhantes àqueles observados no rio Itapecuru. Qual o que!
Quem é educador sabe que o conhecimento é cumulativo, jamais deve ser fragmentado, para não ser estancado. A ciência nos ensina que é desta forma que se conseguem os avanços. Estudiosos de diferentes áreas fazem um pouco e o “estado das artes” vai-se acumulando trazendo bem-estar geral. Aquele era um projeto educativo.
No Maranhão as coisas não são assim. Isso justifica, em parte, o estado de carências generalizadas porque passa o estado.
Nesta semana recebi uma fotografia que considerei uma relíquia. Nela consta a primeira árvore plantada naquele anoitecer pelo Governador José Reinaldo. Trata-se de uma espécie nativa que alem da importância como elemento a compor a mata ciliar que se queria recuperar, tem a simbologia de ter sido a primeira a ser plantada pelo então Governador do Estado. A presença do dirigente maior do estado tinha como finalidade registrar uma mensagem para aqueles que ali estavam e para as gerações que administrariam o estado no futuro. A mensagem não foi assimilada. Infelizmente.
A espécie que aparece na foto é uma Fava D’água. Com ela, ao que fui informado, sobrevivem aproximadamente 20% das mudas plantadas, entre aquele dia e o final de dezembro de 2006, todas resistindo bravamente ao desprezo a que foram relegadas.
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*Artigo publicado em 4/06/2011 no O Imparcial.