José Lemos**
Doze (12) de outubro em que reverenciamos as crianças e a Padroeira do Brasil, também é comemorado o Dia do Engenheiro Agrônomo, acatando Decreto Presidencial N° 23.196 de 1933 que regulamentou a nossa importantíssima profissão.
Como profissional da área, o que muito me orgulha, não poderia deixar passar a data sem fazer algumas reflexões acerca de uma profissão que tem fortíssimos vieses social, ambiental e econômico e de grande relevância e importância, em qualquer lugar do mundo, mas de forma particularmente maior num País pobre como é o Brasil.
Nos dias de hoje o Engenheiro Agrônomo já não tem o charme e o prestigio que teve na época em que a minha geração começou a trabalhar. Tempos em que o Estado brasileiro tinha uma maior preocupação com a produção agrícola. Isso se concretizou com uma verdadeira revolução na pesquisa agropecuária com a criação da EMBRAPA em 1974. Uma empresa que conquistou o mundo pela excelência do seu trabalho. A antiga Escola Nacional de Agronomia no Rio de Janeiro, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz em Piracicaba, São Paulo, a Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais e a Escola de Agronomia da Amazônia em Belém eram referencias nacionais na preparação de jovens Engenheiros Agrônomos. Mas também havia as Escolas de Agronomia vinculadas à Universidade Rural de Pernambuco e à Universidade Federal do Ceará, que formavam jovens nordestinos que queriam entender como produzir sob as condições do semi-árido.
A minha geração estudou as Ciências Agronômicas, numa época ainda fortemente impregnada com os preceitos da “Revolução Verde” e dos Complexos Agroindustriais, que hoje recebem criticas pelo pouco caso com que as tecnologias agrícolas geradas sob os seus fundamentos emprestavam às preocupações com a degradação ambiental. Em sua defesa, pode-se argumentar que a maior preocupação era com o aumento da produção de alimentos, tendo em vistas as projeções malthusianas que anteviam caos no seu abastecimento, face ao vigoroso crescimento populacional que se observava, sobretudo nos países mais pobres.
Alem disso, a não preocupação com os problemas ambientais não foi privilegio da “Revolução Verde” nem da forma como as Ciências Agronômicas foram disseminadas e apreendidas por várias gerações de Agrônomos. Como pode se ler no Oitavo Capítulo do excelente livro de Fritjof Capra, “O Ponto de Mutação”, todas as ciências caminharam naquela direção de não se importar com os problemas ambientais. A Física, a Medicina, a Farmacologia, as Engenharias. Todas avançaram sem dar atenção ao meio ambiente.
Na verdade a Revolução Industrial fomentada na Inglaterra desencadeou o aparato tecnológico que estava ancorado na idéia de que todos os recursos naturais seriam passiveis de reposição através do conhecimento. Óbvio que aquela era uma postura arrogante, mas que não pode ser debitada apenas aos profissionais das Ciências Agrárias.
O grande desafio agora é fazer com que a abundancia de alimentos que o planeta é capaz de produzir, que supera, em muito, as necessidades per capita, possa chegar a todos. Em meio à abundancia na produção de alimentos as Nações Unidas estimam que dos sete bilhões de terráqueos atuais, aproximadamente um sétimo passa fome. Inclusive no Brasil.
As causas dos desníveis no acesso aos alimentos não podem ser debitadas aos Engenheiros Agrônomos. Parte é da responsabilidade de grandes conglomerados econômicos que manipulam estoques, especulam com preços, para aumentarem os seus lucros. Outra parte é de responsabilidade de governantes descompromissados com os problemas das maiorias e da praga da corrupção que corrobora com este processo
Num país pobre como o Brasil, onde a taxa de urbanização se dá em níveis incompatíveis com a capacidade que as cidades têm de absorver os excedentes de migrantes, o desenvolvimento rural pontifica como a única saída para estancar o processo, cujo desfecho é a ocorrência de calamidades. Os Engenheiros Agrônomos já demonstraram competência para serem protagonistas nesta matéria. Basta que lhes devolvam as condições que tiveram no passado. Somos nós, os únicos profissionais habilitados para orientar na produção da segurança alimentar e das matérias primas agrícolas necessárias para que a humanidade avance. Agora de forma muito mais consciente, tendo em vistas que as preocupações ambientais fazem parte da nossa agenda e da nossa pauta de atuação.
===========
*Artigo publicado em O Imparcial do dia 8/10/2011
*Engenheiro Agrônomo. Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Ex-Professor Visitante na Universidade da Califórnia, Riverside, USA. Ex- Secretario de Estado de Assuntos Estratégicos e de Agricultura do Maranhão.