José Lemos
Naquele longínquo primeiro de janeiro de 2003 eu estava em Luis Correa, Piauí. Ainda tinha alguma esperança que estávamos virando a pagina do Brasil naquele dia. Foi ali que assisti, pela televisão, à posse do Presidente para quem eu havia feito campanha em 1989, 1994 (à distancia, porque morava nos Estados Unidos), em 1998, todas elas com muito entusiasmo. Em 2002 já não me sentia estimulado, pois Duda Mendonça, antes execrado, era quem dava as coordenadas da campanha. Ainda assim, votei no ex-operário, mas não fiz campanha. Na época ainda não tinha percebido com clareza que aquela fachada era apenas conveniência eleitoreira, tendo em vistas que ele não trabalhou mais do que dez anos, e fazia daquele adjetivo a ancora para capturar a confiança de brasileiros como eu.
Foi difícil para mim, e para tantos outros que acreditaram naquele discurso ético, de “ser contra tudo isso que aí está” admitir bem depois que eram apenas “bravatas”, ou instrumentos de conveniência para galgar o poder. Na oposição, o partido hoje no poder, vejam só, expulsou a então Deputada Beth Mendes (ex-atriz global) porque ela cometeu o “crime” de votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral que escolheu o primeiro presidente civil depois dos governos militares. O então candidato ex-operário se elegeu Deputado Federal por São Paulo em 1986. Aquele parlamento iria escrever a Constituição de 1988. Além de não comparece a boa parte das seções do congresso e aos debates, ele teve participação pífia, pra não dizer nenhuma, naquele importante evento da historia política recente do País. A sua única contribuição naquele evento foi denunciar que existiam trezentos (300) deputados picaretas. Contudo, jamais os identificou.
Quando Itamar Franco assumiu a Presidência da República, podíamos fazer restrições acerca da qualificação para o cargo, fato não relevante no Brasil, tendo em vistas aqueles que o antecederam e, sobretudo, quem viria bem depois, na virada do novo milênio. Não obstante isso era um homem integro que, até onde se sabe, na Presidência da Republica, não pactuava com corrupção. Não se tem noticias de ter ficado rico no cargo, tão pouco de que algum parente próximo seu enriqueceu de repente. O partido hoje no poder, fazia oposição acirrada contra tudo e contra todos. Ninguém, fora do partido, tinha fundamentação ética. A “pureza” desse partido o levou a expulsar a então Deputada Luiza Erundina pela “transgressão” de aceitar ser Ministra do Governo Itamar Franco.
Mas o partido chegou ao poder naquela tarde de primeiro de janeiro de 2003 que eu achava que seria o divisor de águas para o Pais, não nos rumos para onde ele de fato foi, mas para aquele que nos prometiam quando ainda estavam na oposição.
Logo de cara vieram as frustrações na composição do Ministério, para onde foram figuras sem qualificação para os cargos, sem falar na reputação de alguns. Pior do que isso foram as alianças políticas. O presidente resgatou o que havia de pior na política brasileira. Isso tudo sem a menor cerimônia. Seguramente, boa parte dos trezentos picaretas congressistas denunciados passou a ser parceira do partido no poder. Figuras para quem o Presidente recém-eleito e o seu partido sempre reservaram adjetivos impublicáveis, passaram-lhes a fazer parte do grupo de afinidades.
Não havia projeto do partido para governar o Pais. Aproveitaram as ondas deixadas pelo Plano Real e surfaram nos seus bons resultados. O “grande projeto” do governo, foi unificar e ampliar os programas de transferência de renda do governo anterior.
Transcorridos dez anos, o PIB teve expansão pífia. No ano passado o crescimento foi de apenas um por cento. O País apenas não experimentou apagão de energia porque a economia praticamente estagnou. A inflação recrudesce por causa do descontrole fiscal promovido por uma máquina pesada, ineficiente e incompetente. As desigualdades regionais continuam. O Nordeste, região mais carente do Brasil, se apropriava de 13,52% do PIB brasileiro em 2002. Em 2009 passou a se apropriar de apenas 13,51%. Justamente a região que, proporcionalmente, deu as maiores votações aos presidentes eleitos pelo Partido dos Trabalhadores. Lembrando que na região está o maior contingente numérico e proporcional dos “Bolsistas Família”, numa evidencia de que o programa não fomenta progresso, mas é um importante instrumento de estelionato eleitoral.
Nos indicadores sociais a situação também não evoluiu. Em 2002 havia 15.919.409 analfabetos maiores de dez anos. Em 2009 o total de analfabetos era de 15.731.836, apenas 187.573 a menos. A escolaridade média dos brasileiros era de 6,5 anos em 2002 e chegou a apenas 7,8 anos em 2009. O Brasil real é muito diferente do virtual veiculado na mídia com recursos captados através de uma das mais caras e ineficientes politicas tributárias do planeta.
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*Artigo publicado em 12/01/2013.