José Lemos*
…pode vir algo interessante!
Senhores poderosos, Vossas Excelências conseguiram, com as suas determinações insaciáveis de poder, destruir com as nossas esperanças e com o futuro de gerações. Lá se foram quatorze anos de engodos, mentiras, tratativas furtivas sob escombros de obras inacabadas. Estádios mirabolantes. Projetos mal concebidos e superfaturados. Transposição inconclusa de um rio moribundo. Ferrovia que começa em nenhum lugar e chega a lugar nenhum…
Insatisfeitos com tudo isso, ainda jogam na vala do desemprego, da desesperança, do não saber o que vai acontecer apenas um dia à frente, mais de 14 milhões de brasileiros! Não há qualquer sentimento de remorso nos senhores e senhoras com uma estatística tão cruel? É certo que não sabem, nem querem saber, que a família brasileira média é constituída de quaro (4) pessoas. Pois eu lhes informo que são ao menos 56 milhões de pessoas que, neste momento, não sabem como colocar a comida em casa, como pagar o aluguel, as contas de água (que não chega às torneiras), da energia elétrica, do gás de cozinhar que perdeu a utilidade… Enquanto isso Vossas Excelências tramam, fazem negociatas, buscam apoios sabe-se lá com que moeda de troca, para ficar mais tempo Presidente, Governadores, Deputados, Senadores…
Senhores Presidentes (o atual e o casal que lhe antecedeu nos últimos 13 anos), senhores deputados, senhores senadores, senhores juízes, Vossas Excelências não acham que já esticaram demais a corda? Que há limites para tudo?
Os senhores conseguiram fazer com que nós aqui da planície passássemos a acreditar que todos vocês são iguais. Quando os vemos, quando os ouvimos, sempre os associamos a cifrões, à exorbitância de dinheiros ilícitos, mesmo aqueles que aparentam ser lícitos, nos seus portfolios… Como os seus respectivos salários.
Será que os senhores são assim tão insensíveis que não tem a capacidade de avaliar que enquanto 56 milhões de brasileiros sequer tem qualquer renda para comprar o mínimo essencial, Vossas Excelências se locupletam com salários nababescos, e com uma montanha de regalias? Suas Excelências não sentem qualquer prurido com o turbilhão de “auxílios” que tem?. “Auxilio moradia”; “auxilio passagens”; “auxilio combustível”, “auxilio telefone”, “carros com motoristas”, um séquito de pessoas que os senhores empregam somente porque lhes são parentes, amigos ou cabos eleitorais? Tudo pago por nós aqui que trabalhamos duro e temos uma das mais escorchantes cargas tributárias do planeta com contrapartida de serviços horrorosos…
Os seus salários são pontos bastante acima de uma reta de rendas que, para ao menos dois terços dos brasileiros, é paralela e praticamente rasteja, tangenciando esgotos ao céu aberto, ruas esburacadas, sujeiras em profusão, águas fétidas em que proliferam mosquitos, pragas e doenças já extintas em lugares civilizados…
Senhor Presidente, não esqueça que o senhor, e o seu partido, conquistaram a ascensão à posição atual permanecendo ao menos 13 anos concordando com as atrocidades, com os desmandos e com as irresponsabilidades de um grupo que Vossa Excelência tinha na maior cotação. Tanto que concordou pousar na foto com eles.
Senhores Deputados, Senhores do inútil Senado, com os históricos que construíram ao longo das respectivas carreiras (com as exceções que decrescem exponencialmente), vossas Excelências se acham em condições de votarem reformas de alguma coisa? Como boa parte de Vossas Excelências terá condições de votar um projeto que aumenta para 65 anos a idade de aposentadoria de quem ousar chegar a esta idade se, entre vocês, boa parte se aposentou no florescer dos cinquenta e poucos anos?
Senhores do Poder Judiciário, vocês continuam com a saga de mostrar que há brasileiros comuns e incomuns. As regras que valem para o “Zé Ninguém” que roubou para levar comida para casa (um delito, sem duvida), não são as mesmas para Ze Dirceus que cometeram o “insignificante” delito de “guardarem” em seu poder parte do dinheiro saído dos nossos impostos.
Uma forma de todos os senhores (Presidente, Senadores, Deputados, Juízes) salvarem o pouco de dignidade que ainda tiverem, seria assumir a proposta encabeçada pelo Jurista Modesto Carvalhosa e tantas outras pessoas de bem deste País. Convocarem, de imediato, uma Assembleia Constituinte independente, para refazer o reordenamento jurídico, social, econômico e politico do Brasil. Seria pedir demais? Se for, ao menos atentem para o texto postado nas redes sociais pelo Deputado Francisco Everardo Oliveira Silva. Para quem não sabe de quem se trata é ele mesmo, o Tiririca. De onde não se espera. Às vezes vem algo interessante!
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*Professor Titular. Coordenador do Laboratório do Semiárido na Universidade Federal do Ceará.
Artigo publicado no dia 6/05/2017