A avalanche de denuncias contra o Senado e o seu Presidente parece que já é mais outra triste pagina virada, como prognosticou o Presidente da Republica, do alto da sua imponência e onipresença.
A avalanche de denuncias contra o Senado e o seu Presidente parece que já é mais outra triste pagina virada, como prognosticou o Presidente da Republica, do alto da sua imponência e onipresença. Com efeito, ele é o principal responsável pelo arquivamento de denuncias graves que insistem em rondar aqueles a quem escolheu para companhia depois que fizemos tudo para elegê-lo, contrariando a vontade desses que hoje agridem qualquer fundamento ético e o bajulam. Mas precisávamos passar pela experiência. De outra forma ficaríamos sempre naquela ilusão de que se fosse ele seria diferente. Ao menos agora confirmamos que todos são iguais quando chegam ao poder. Isso, contudo, não significa que as esperanças morreram. Vislumbra-se uma luz ao final do túnel que acena para práticas éticas, e para preocupações mais avançadas do que a mera Aceleração de Crescimento do PIB, que pode, alem de causar danos à natureza, provocar mais concentração da riqueza e da renda, além de empoderar quem é capaz de turbinar o currículo para parecer ser o que não é. E impressionar.
A postura dos homens públicos com mandato popular nivelou por baixo a todos em geral. Restaram poucas referencias éticas no acervo dos políticos brasileiros da atualidade. Até bem pouco tempo atrás eu imaginava que o PT seria o diferencial. Tanto assim que exerci intensa militância, defendendo as suas postulações aqui na Universidade e até cheguei a cogitar filiação ao partido. Desisti, hoje avalio que acertadamente, praticamente na hora da assinatura da ficha de filiação. Hoje vejo, com tristeza, que tudo aquilo eram apenas armadilhas e subterfúgios para conquistar o poder pelos métodos de sempre. Conquistar e fazer igual àqueles a quem apedrejavam quando eram oposição que, aliás, agora faz falta para o contraponto e o confronto de idéias.
O resgate do direito de eleger os representantes e dirigentes por parte dos brasileiros (a minha geração não havia experimentado antes este gostinho), agora se confirma, não consolida a democracia. Isto porque o poder econômico, os poderosos de sempre, boa parte egressa e avaliadora daquele período de exceção, continua vivíssima e protagonizando cenas explicitas de assalto aos cofres públicos.
O Presidente elegeu o seu próprio projeto de poder. Leio agora no jornal “O Povo” do Ceará a declaração do atual Presidente do PT no Estado. De forma clara ele falou que o Partido tem que “Seguir o Projeto do Presidente Lula de eleger Dilma Russef”. Assim mesmo, sem meias palavras. Os membros da eclética “Base Aliada” também falam exatamente assim. Não tem projeto para o Brasil. Nada de interesse coletivo. Há a vontade de um homem e o seu projeto pessoal para ser atendidos.
Para isso mobilizam-se todos os poderes da Republica. O Executivo, diretamente interessado, porque seus membros, que antes não haviam sentido o gostinho das benesses do poder, vêem nesta possibilidade a única chance de continuarem com a vidinha boa que descobriram (e se deslumbraram) e que antes acusavam a burguesia de usufruir. Bom mesmo é falar de “projeto popular das esquerdas” refestelado em polpudos salários exercendo cargos em que a afinidade familiar, o sobrenome, ou a militância sindical sobrepõem-se à competência. Esquerda, no caso, é entendida como aqueles que pactuam com tudo isso, inclusive com os atuais protagonistas da tropa de choque. Quem discordar é rotulado de “direitista”, num maniqueísmo sem precedentes.
O Parlamento caiu em descrédito. O Senado não merece mais o respeito que deveria ter dos brasileiros. Senadores, com as honrosas exceções de sempre, jogam para a platéia tentando fazer crer que estão interessados em investigar os desvarios denunciados pela imprensa, que agora está amordaçada, contrariando a Constituição, exatamente por desígnio de um membro do poder que deveria ser o seu guardião.
O Poder Judiciário está se esmerando em decisões que desestimulam os cidadãos a exercitarem a legalidade. Veja-se a saga do caseiro Francenildo que teve a coragem de denunciar desmandos que eram comandados por figurões, e que saiu desmoralizado por um julgamento, que uma semana antes a imprensa já antecipava o resultado. O principal envolvido, já sabendo antecipadamente que seria favorecido, segundo se leu na grande imprensa, já houvera sido chamado em Palácio para conversar com o Presidente que o quer como Coringa nas eleições do próximo ano. De agora em diante os “Francenildos”, “Josés”, “Franciscos” e tantas outras figuras “comuns” que “ralam” para conseguir o pão de cada dia, pensarão mil vezes antes de decidir delatar situações anômalas como aquela. Avaliarão que talvez seja melhor fazer o jogo da chantagem e assim conseguirem boas recompensas pecuniárias e materiais para permanecerem calados. Assim, alem de não serem constrangidos na frente a homens bem vestidos e de falas complicadas que ninguém entende, ainda conseguem remunerações muito mais polpudas, sem demanda judicial que geralmente dá em nada, e que se arrasta indefinidamente quando o interesse dos pobres está em jogo. Este pode ser o efeito didático de um julgamento como aquele.
A via democrática para a escolha dos dirigentes, que custou caro aos brasileiros, também não faz sentido para as populações mais pobres. Para substituir esses mortais “comuns”, existem pessoas mais escoladas e preparadas que farão a escolha por eles. Isso reforça o que aquele famoso jogador que “calado é um poeta”, como anunciava o bem-humorado boleiro, que dizia “o brasileiro não sabe votar”. Esta frase hoje bem que poderia ser refeita para: “Brasileiros pobres não sabem votar. Precisam de meia dúzia para lhes substituir nesta missão”. Os pobres tem que saber que quem decide o que é bom para eles mora bem distante. Onde já se viu essa gente querer reger seu destino? Isso nunca existiu antes, por que existiria agora? E logo os maranhenses!? Não!
===============
*Escreve aos sábados no Jornal “O Imparcial” de São Luis, Maranhão. Artigo publicado no dia 5/9/09 Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Economista Emérito pelo Conselho Regional de Economia do Maranhão.