José Cursino Raposo Moreira*
A implantação em São Luís da fábrica de alumínio e alumina do hoje chamado Consórcio Alumar se deu no bojo da dispersão da indústria mineral dos países centrais para os periféricos ocorrida nos anos oitenta do século passado. Nesse momento o Brasil atravessava forte crise de Balanço de Pagamentos, cuja solução viria pela atração de capitais externos de risco e de empréstimo a serem aplicados nos grandes projetos característicos do ciclo econômico dos governos militares. Isto explica a sua contemporaneidade com o Projeto da então estatal Vale do Rio Doce, voltado à extração e exportação dos minérios de ferro existentes na Serra de Carajás no Pará, através do Porto de São Luís, após percorrer a Ferrovia Carajás-Ponta da Madeira. Também existia o incentivo de energia elétrica subsidiada da Hidrelétrica de Tucuruí como forte atrativo locacional para o projeto no Maranhão. Entretanto, sua implantação atraiu a oposição de organizada mobilização popular, motivada ante as ameaças ambientais que o processo produtivo do metal contém. Em menor grau ficou a discussão sobre os custos e benefícios mais especificamente econômicos do projeto, sobretudo a dependência do desenvolvimento da região a um mega empreendimento integrante de um setor de atuação global com lógica de decisão eminentemente privada. Esta atitude se deu em razão de generalizada expectativa de diversos setores do estado pela posterior ocorrência na cidade de um processo de industrialização do alumínio primário em uma série de bens industriais intermediários e finais.
Então a possibilidade de encerramento das atividades de produção de alumínio pela Alumar na capital maranhense, admitida recentemente até mesmo pelo Presidente da Alcoa América Latina, significa que deu tudo errado? Seria este mais um caso a confirmar a visão pessimista de muitos que tudo no Maranhão “não vai adiante”? A resposta é certamente não e o entendimento do que está acontecendo se encontra em outro âmbito. As commodites, como é o caso do alumínio, têm um comportamento de preços bastante instável dentre outras razões pela ação dos mercados futuros de mercadorias onde se negociam suas cotações, em volumes cada vez maiores que o seu lastro físico, introduzindo caráter de alta volatilidade a essa atividade. Isso não é ignorado por nenhum dos grandes produtores da mercadoria, devendo estar considerado na sua prática gerencial e seus fluxos de caixa. Nessas circunstâncias avulta a importância dos subsídios de preços de insumos, isenções tributárias e outros incentivos para a manutenção da taxa de lucro das empresas que operam nessas indústrias.
No momento atual de crise econômica global o modelo de transferência de renda do setor governamental para o setor privado subsidiado entra em crise, situação agravada pela retração da demanda e pela depressão dos preços das mercadorias. A particularidade da crise atual é a sua extensão e a falta de previsibilidade quanto ao prazo de sua superação, de forma que agora os setores produtivos das matérias primas se encontram ante um cenário maior de incertezas, apesar de esta situação, qualitativamente, não ser inédita para suas empresas.
A grande ameaça que agora se apresenta para a economia maranhense é a mesma que existe para todas as regiões que ancoram o seu desenvolvimento no modelo de grandes projetos com baixo grau de interação com as suas vocações naturais, como é este. Não há dúvidas quanto aos grandes benefícios da Alumar para a economia maranhense e dos problemas que lhe advirão na hipótese pouco provável do encerramento de suas atividades. O mais importante agora, então, é saber-se porque tanto tempo depois de sua implantação, este empreendimento ainda depende tanto de energia subsidiada fornecida pelo governo. Como andam suas iniciativas e investimentos de geração própria de energia elétrica. Qual o seu grau de inovação tecnológica e que materiais concorrem hoje como substitutos de seus produtos. De outro lado, vale também situar o problema da Alumar no contexto da falta de competitividade da indústria brasileira, assim equacionando-se o problema dentro de dimensões pertinentes e isentas de emocionalismos que muito já dificultaram entender-se corretamente esta questão na dinâmica socioeconômica do Maranhão. Sem o “fechamento da Alumar”, segundo o desejo de todos.
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*Economista e Conselheiro do CORECON-MA. cursinomoreira@elo.com.br