José Lemos*
Ainda muito jovem, recém concluído o curso de Engenheiro Agrônomo na atual Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), eu já estava contratado pela EMBRAPA, lotado no então Centro de Pesquisa Agropecuária do Tropico Úmido (CEPATU).
A EMBRAPA que foi criada em 1974 pelos governos militares, desencadeou o que talvez tenha sido o maior programa de treinamento de técnicos no planeta. Caso não tivesse feito mais nada (e já fez muito), somente por essa razão já se justificou a sua criação. Foi em decorrência da EMBRAPA que a Universidade Federal de Viçosa, MG (UFV) e a de Piracicaba, SP (ESALQ), principalmente, deslancharam os seus programas de pós-graduação, em todas as áreas de conhecimento das ciências agrárias. Assim, a massificação dos cursos de Mestrado e Doutorado em Ciências Agrárias que se deu no Brasil a partir dos anos setenta são externalidades positivas da EMBRAPA.
Eu sempre andei na contramão da onda corrente. Enquanto boa parte dos “Embrapanos” optaram por estudar naquelas duas escolas, eu optei por fazer o meu treinamento em Economia Rural na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no IEPE, em Porto Alegre. E não me arrependi. Para tanto tive que me submeter a uma prova de seleção que foi enviada pela Coordenação do curso para ser realizada no Departamento de Economia da Universidade Federal do Pará, em Belém.
Porto Alegre está a mais 4 mil quilômetros de São Luís. Uma cidade em que o inverno se manifesta de forma rigorosa, com baixas temperaturas e que se tornam particularmente agressivas para quem sempre viveu perto da linha do Equador. Mas fui muito feliz naquela cidade. Tanto que tenho dois filhos gaúchos.
Um fato que logo me chamou atenção foi os colegas de curso (a maioria do Sul, mas tinha um Paulista), e até alguns dos meus professores, me chamarem de cearense, baiano, paraibano… No começo eu dizia que eu era maranhense. Mas não adiantava. Com o tempo me acostumei, e passei a encarar aquilo com normalidade. Não me sentia diminuído por ser referenciado em outra naturalidade. Mas queria que a minha identidade de maranhense ficasse registrada. Mas os caras insistiam. Paciência!
O fato é que no Sudeste e no Sul é costume identificar os nordestinos como “Cearás”, “Baianos” ou “Paraíbas”. Não se trata de desrespeito, agressão. As secas do Nordeste nos provêm uma “notoriedade atravessada”. Nas épocas de calamidades climáticas que, infelizmente nos são recorrentes, a grande mídia brasileira, estampa manchetes e faz amplos noticiários, falando dos flagelados migrantes que buscam guarida em São Paulo e no Rio de Janeiro, principalmente. Bahia, Ceará e Paraíba são três dos estados do Nordeste que mais tem emigrantes tangidos pelas secas. Talvez esteja ai a causa dessa “identificação” de nordestino como sendo alguém desses estados.
A cultura popular que engloba romances, poesias, cordéis, musica de nordestinos famosos, registra este fato de forma bastante ampla. Gonzagão, Jackson do Pandeiro, dentre outros cantores populares, têm muito disso na sua obra.
Assim, soou estranho ter sido feito um enorme prurido quando o atual Presidente se referiu aos nordestinos como “Paraíbas”. Depois de eu mesmo ter experimentado na pele ter sido trocada a minha naturalidade, observo que se tem alguém que deveria ficar chateado, seriam justamente os paraibanos porque a referencia simboliza pessoas desamparadas, desgarradas, sofridas, o que é uma verdade dura de ser absorvida por todos nós que nascemos do lado de cá. Mas não queremos ser reconhecidos só por isso.
A verdade é que a mídia, e muitos daqueles que não conseguiram assimilar a derrota que lhes foi imposta pela maioria dos brasileiros que não suportava mais ver o que acontecia no Brasil nos últimos 16 anos, aproveita os deslizes verbais do Presidente para atacá-lo. Até parece que as retóricas de Dilma e Lula eram obras acabadas.
Talvez uma estratégia melhor do Presidente fosse deixá-los falando sozinhos. Eles preferem não noticiar as boas conquistas de até aqui como ter um Ministério tecnicamente competente e não ter sido escolhido no toma-lá-dá-cá. Os que querem enxergar na fala do Presidente uma segregação contra o Nordeste, não querem divulgar que é neste governo que foi retomada, e será concluída, a construção da Ferrovia Norte-Sul que beneficiará muito o nosso Maranhão. Que este governo está tratando de buscar e difundir tecnologias de dessalinização para viabilizar água potável para nós do Nordeste, sobretudo os mais pobres. Pobres que servem de escudo para políticos que apenas os querem como massas de manobra provendo-lhes migalhas para receberem a contrapartida do voto de cabresto a cada dois anos.
Alguns cuidados de retórica, desistir da idéia de nomear o filho como Embaixador dos EUA, seriam sinais muito bem vindos nestes momentos em que já temos bons resultados para comemorar. A mídia não divulgará as boas noticias (o governo pode fazer isso, inclusive nos momentos em que for provocado por jornalistas mal-intencionados), mas não terá motivações para atacar. Ficará sem assunto. Jornalista sem assunto, sem pauta, sem redação, é jornalista desempregado. Órgão de imprensa sem credibilidade, não tem leitor, telespectador, ouvinte. Não terá patrocinador e decretará falência. Nós podemos fazer a nossa parte: ignorando-os.
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Texto para o dia 03/07/2019
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