José Lemos
Resiliência é um conceito importado da física e tem recebido aplicações em diferentes ciências. É a capacidade que tem um sistema que, tendo sido deslocado do seu ponto de equilíbrio inicial, retorne a este ponto. Seria o poder de recuperação de um sistema, na suposição de que ele se encontrava inicialmente num ponto de equilíbrio. Aí entra outro conhecimento da física. O de equilíbrio estável. Aquele em que um corpo, estando em estágio de repouso, havendo eventos que o desloquem, surgirão forças internas que o devolverão ao ponto inicial. Pode-se então dizer que resiliencia é a capacidade que um sistema possui de absorver impactos externos e reorganizar-se enquanto prepara mudanças para continuar mantendo as suas funções, estruturas e identidades. A ênfase do conceito recai sobre a sua dinâmica de recuperação (elasticidade) quando experimenta estresses que o retiram do seu estagio modal.
Ao longo dos últimos cinquenta anos o Maranhão tem experimentado estresses provocados, não por problemas naturais como enchentes, secas, ou outros distúrbios climáticos. Trata-se de um estado que tem ao menos seis bacias hidrográficas perenes, e de grande porte, cruzando as suas terras como as de Tocantins, Gurupi, Parnaíba, Itapecuru, Mearim, Munim. O nível de precipitação de chuvas que prevalece na maioria do enorme território do estado é superior a mil milímetros anuais, com uma distribuição que não chega a ser comprometedora ao balanço hídrico na maioria dos municípios. Estado que tem uma biodiversidade incrível e que possui ecossistemas como Amazônia, Cerrados, Litoral, Pantanal. Possui a segunda maior costa marítima do Nordeste e uma das maiores extensões de manguezais contínuas do Brasil. Uma floresta secundária de babaçu que praticamente se espraia por todo o estado, além das primárias. Ainda tem riquezas no seu subsolo como. água potável em imensos lençóis freáticos, minérios e fontes fósseis de energia. Uma população de aproximadamente sete milhões de pessoas ávidas por deslanchar um processo virtuoso e irreversível de progresso, mas que não vê isso acontecer.
Por que um estado tão rico assim tem população tão carente? O que está faltando para transformar toda essa riqueza potencial em efetiva e mudar a vida desse contingente de seres vivos? Ou fazendo a pergunta de outra forma. O que acontece, ou aconteceu, no Maranhão para que o estado esteja no atual estágio de penúria? Tenha sido deslocado do seu eixo modal de progresso? A resposta não é difícil. Está na forma como esses recursos vem sendo sistematicamente administrados e dilapidados. Quase sempre em benefício de um grupo restrito que se aferra ao poder no estado e o mantém refém dos seus interesses de fortuna material e como âncora para ter cacife político nas esferas de decisão em nível nacional, mas sempre visando interesses pessoais ou paroquiais. Jamais o interesse coletivo.
Este é o grande estresse que retirou o estado do seu ponto de equilíbrio estável. A resiliência para o estado consistirá em conseguir superar todos esses estresses e retomar a sua trajetória factível. Num passado recente, entre 2002 e 2006, os maranhenses demonstraram ter elevada capacidade resiliente. Foi o período em que ficou fora das forças que o empurravam para fora da sua trajetória natural. Com ações de políticas simples, como aquelas que se voltaram para as potencialidades do estado, foi possível a reversão de um quadro difícil em pouquíssimo tempo e apontar para a retomada de um caminho virtuoso de avanços. Um período em que a população, sobretudo a mais carente, vislumbrou que tinha condições de ir mais longe. Ali ficou demonstrada a elevada capacidade de resiliência dos maranhenses. Tanto que elegeram um Governador em que acreditaram pudesse prosseguir aquele circuito virtuoso de recuperação das suas potencialidades que mal havia começado, mas que vislumbraram o levariam para o seu caminho modal. Novamente forças externas, além de esdrúxulas, tiraram os maranhenses daquele caminho virtuoso em abril de 2009.
O estresse que os maranhenses enfrentam atualmente, decorrente da avassaladora desordem administrativa que o estado experimenta desde abril de 2009, é algo difícil, mas não impossível de ser superado. É previsível que a situação se agrave, com o aniquilamento das finanças públicas estaduais, feito para imobilizar a futura administração. Isto precisa ser vigiado e denunciado veementemente caso ocorra. Com competência, responsabilidade, projetos corretos e adequados, máquina administrativa enxuta e competente, o futuro Governador, das oposições ao atual sistema, conseguirá reverter o quadro, porque a capacidade resiliente dos maranhenses é enorme. Nos primeiros dias da próxima administração, que serão dificílimos dada a derrocada financeira e o endividamento que serão herdados, o novo governo deve partir, na minha avaliação, para ações de impacto de curto prazo. Dada a vocação agrícola do estado, tudo deve começar pela retomada da produção agrícola do estado. Mais barata e de efeitos mais visíveis no curto prazo. Agindo assim aplainam-se os caminhos para ações estruturantes de médio e longo prazo. Não há outro caminho inicial de retomada para o estado. Resilientes os maranhenses são. Mas a paciência esgotou. Não há mais tempo a esperar. O futuro ´tem que começar em 2015.
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*Artigo publicado no O Imparcial do dia 19 de abril de 2014.