José Lemos
Como sabem todos que me acompanham nesta coluna aos sábados, a minha formação é em Ciências Agrárias, com fortes vieses para avaliá-las nos seus aspectos Econômicos e Estatísticos. Portanto, eu não tenho formação na área de saúde. Apenas me declaro um curioso que dedica parte do tempo para estudar temas dessa área, até porque eu ainda alimento o projeto de fazer vestibular para cursar medicina e me transformar em médico de família, fazendo trabalho voluntário até encerrar a minha passagem como inquilino deste belo planeta azul. Um sonho acalentado na adolescência nos Bancos do Liceu, em épocas de elevadas carências familiares.
A minha curiosidade, e o meu envolvimento com temas da área de saúde, se aguçaram quando eu passei a conviver muito proximamente com dois tipos de canceres: de mama e de próstata. A experiência com pessoas muito próximas de mim com essas duas doenças me despertou a curiosidade em apreender mais sobre elas. Fiz e faço muitas leituras em artigos científicos. Tive o privilégio de ler e apresentar sugestões, a pedido do autor, na Tese de Doutorado do meu urologista, um bam-bam-bam no tema câncer de próstata, que a defendeu na USP em 2010.
Por causa dessa minha convivência muito estreita com essas duas doenças, especificamente, com o câncer de próstata, eu me auto-defini e assumi a condição de militante ativo da causa da sua prevenção. E nesta condição, eu não fico confortável quando vejo ou leio piadas abordando este tema de forma jocosa. Não há a menor graça em alguém ter câncer de próstata, portanto, não faz sentido esse tipo de “brincadeira” que eu considero de apurado e desagradável mau gosto.
Também por isso meu caro leitor eu quero conversar consigo de homem-prá- homem. Mas a sua companheira, as suas irmãs, filhas, parentes de um modo geral, também podem participar desse “papo cabeça”, como diriam os nossos filhos.
Presta atenção para esta informação: Um (1) em cada seis (6) homens terá câncer de próstata. Contudo, há estatísticas mais sombrias. Há urologistas que dizem que todos os homens terão este tipo de câncer, que só é menos letal do que o de pele.
A doença é silenciosa, daí o seu perigo. Manifesta-se normalmente em homens com 50 anos ou mais. Mas não é raro encontrar homens de pouco mais de quarenta anos que tiveram a doença. Eu conheci um rapaz assim. Teve câncer de próstata no vigor dos 43 anos. Tive a oportunidade de conversar com ele que resolveu se abrir comigo porque adquiriu confiança depois que eu lhe falei das razões do meu interesse. Para ajudar na minha militância escrevendo textos de alerta como este, dentre outras formas.
Câncer de próstata é colocado em redoma de mistérios e tabus. Mais destes do que daqueles. Homens não gostam de falar. Quando o fazem é abordando piadas de terrível gosto porque sempre acham que NUNCA chegará a eles. Nem próximo deles.
Quando não temos afinidades com a ciência Estatística, e mesmo tendo, sempre achamos que nos eventos ruins estaremos incluídos no grupo que as estatísticas deixam de fora. Neste caso, até por comodidade, sempre acharemos que estaremos no grupo dos cinco que não desenvolverão a doença. Tomara que seja assim no seu caso, meu amigo leitor. O perigo é se você for aquele um (1), dentre os seis, que contrairá a doença. Como nunca saberemos com certeza, melhor será não correr riscos. Não é verdade?
Teremos mais chances de ser aquele um, de cada grupo de seis, que contrairá a doença, se tivermos histórico na família (avô, pai e irmãos, principalmente), que tiveram a doença. O fator hereditário talvez não seja determinístico, mas ele é um forte indicio de que possamos ser vitimas de câncer de próstata. Contudo, o nosso estilo de vida também incrementa as nossas chances de contrair a doença. Excesso de peso, aquela barriguinha insistente, vida estressante, sedentária sem exercícios físicos cotidianos, o hábito de beber álcool em excesso, comer gorduras, carne vermelha em excesso, comidas enlatadas, empacotadas, refrigerantes, doces, salgados e o vício do tabagismo.
A prevenção consiste na visita periódica ao especialista, ao menos uma vez por ano, a partir dos 40 anos para aqueles que têm histórico de parentes próximos com câncer de próstata. Para as demais faixas etárias é bom ficar atento e fazer a prevenção a partir dos 50 anos de idade. Passar a visitar o urologista com frequência anual.
Detectado nos primórdios, o que apenas será possível mediante os exames costumeiros preventivos, as chances de cura são amplas. Inclusive sem deixar sequelas, como a incontinência urinária e, a pior de todas, a temida disfunção erétil. Incapacidade de ter ereção e/ou de mantê-la por prazo suficiente para prover prazer para a companheira. Melhor então é ser homem viril fazendo exames preventivos e periódicos. A sua companheira adorará. Sugestões deste seu amigo que lhe quer ver saudável.
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*Professor Titular, Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará. Estudioso dos canceres de mama e de próstata. Artigo publicado no dia 04/11/2017