José Lemos
Hoje quero pedir a permissão aos meus leitores para falar do cajueiro uma fruteira da maior importância para nós nordestinos, sobretudo para aqueles que vivem na parte desta região que tem dificuldades hídricas. Essa mudança de roteiro no relato se deu devido ao turismo que fiz nos últimos 15 dias pelo Nordeste semiárido, que me proporcionou o lazer que eu buscava pelas merecidas férias.
Nessas andanças, revi cenários incrivelmente belos. Viajando de carro pela “Rota das Emoções”. Circuito que incluiu: Jeriquaquara, Acarau e Camocim, no Ceará. Luis Correia e Parnaíba no Piauí. Tutóia, Paulino Neves, Barreirinhas, passando pelas bordas de Santo Amaro, Primeira Cruz até alcançar São Luis. Depois atravessar a enorme, intensa, rica e bela Baia de São Marcos, para mergulhar nas belezas da Baixada Maranhense, passando na minha terra: Paricatiua, no município de Bequimão e, finalmente Pinheiro. Parada final do Tour de ida. A volta foi o mesmo roteiro invertido
São belos os cenários observados, que incluíram enormes dunas de areia entremeadas de lagoas provocadas pelas águas das chuvas, rios cheios, mar belíssimo e fértil, com pescadores saindo em suas embarcações precárias, para as suas lides bem cedinho, devidamente documentadas pela minha câmera fotográfica. Mas eu quero destacar nessas paisagens, que sempre fazem bem para todos os meus sentidos, a beleza e o aroma emitido pelos cajueiros em pleno processo de floração.
O Nordeste é o maior produtor e exportador de castanha de caju do Brasil. Neste item, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, nesta ordem, lideram em área colhida, produção, valor da produção e valor das exportações. Segundo informações publicadas pelo Censo Agropecuário de 2017 que acabaram de ser liberadas, a situação de produção, em mil toneladas de castanha de caju naquele ano por estado, era a seguinte: Piauí (124); Ceará (37); Rio Grande do Norte (5,5); Bahia (2,6) e Maranhão (1,9).
Em termos de produtividade, quilogramas por hectare de castanha, o Maranhão lidera o ranking produzindo 395 Kg/ha em 2017. Rio Grande do Norte (338 Kg/ha); Ceará (260 Kg/ha); Piauí (224 Kg/ha) vinham em seguida. A castanha do Caju é o fruto. A parte bonita, vermelha ou amarela, é o pseudofruto, ou pedúnculo hipertrofiado. Belo, aromático e saboroso, o pseudofruto, ainda é muito desperdiçado.
No Nordeste Semiárido, do qual o Maranhão faz parte com pelo menos 45 municípios (o Governo Federal reconhece apenas dois), as chuvas são intermitentes no tempo e se distribuem de forma irregular durante os anos nos diferentes espaços geográficos. Na maioria dos municípios que fazem parte desse ecossistema, a quadra chuvosa começa em janeiro e encerra-se em maio ou até meados de junho.
A agricultura anual de sequeiro (que depende apenas das chuvas, não utiliza irrigação) praticada pelos agricultores familiares que são a maioria, como arroz, feijão e milho (a mandioca tem ciclo mais longo de um ano a um ano e meio), é plantada no inicio da quadra chuvosa. Havendo normalidade pluviométrica, as lavouras se desenvolvem bem e são colhidas em junho, no ápice dos festejos juninos. A partir de julho, os agricultores não teriam mais atividades agrícolas. Tendem a ficar ociosos, se não tiverem rebanho caprino, ovino ou bovino para tocar com dificuldades, devido à escassez hídrica que ocorre nos segundos semestres em todo o Nordeste.
Ai que entra a importância do cajueiro para o sertanejo. O cajueiro começa a floração justamente quando se encerra a quadra chuvosa. Surgem os frutinhos, ainda ‘bebês”, nesse mês e evoluem para a colheita em setembro, outubro e novembro. Ficar sob um Pomar de cajueiros em floração é uma sensação incrível. O aroma que as flores emitem, bem como a “confusão” formada pelos insetos polinizadores, sobretudo abelhas, são momentos de incrível plenitude de beleza e alento para a alma. Quando os frutos surgem coloridos no período mais difícil da disponibilidade hídrica, se tem um contraste marcante de cores: De um lado a paisagem cinzenta da caatinga ressequida, do outro o verde das folhagens, o vermelho e o amarelo dos cajus saborosos, riquíssimos em vitamina C e… vida. Muita vida! Generosidade da Natureza.
Eu escrevi em outro texto que o Maranhão poderia ser, ao lado do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, grande produtor de castanha de caju. Poderíamos ajudar o Nordeste e o Brasil a disputar mercados, inclusive com vantagens competitivas, com a Índia e o Vietnã, os maiores exportadores dessa commodity. Isso está demonstrado numa Dissertação de Mestrado que eu orientei aqui na UFC em 2016.
O Leste Maranhense é a área a mais carente do nosso Estado. As causas naturais (tem as induzidas pela ineficiência e o descaso do poder público) são, principalmente, os solos arenosos e o elevado déficit hídrico. Os cajueiros se dão bem em ambientes assim. Com efeito, ainda de acordo com os dados do Censo Agropecuário de 2017, os municípios que mais produzem castanha de caju no Maranhão estão justamente nessa área mais difícil do Leste do Estado. Destacam-se Barreirinhas e Santo Amaro.
Vamos fazer do Leste Maranhense um enorme pomar de Cajueiros? Teremos beleza, aroma, ocupação para milhares de conterrâneos e riqueza brotando de solos e ambientes de onde alguém menos avisado poderia avaliar que seria impossível.
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Texto para o dia 20/07/2019.