José Lemos
Que o Brasil é um País diverso, todos sabemos. Aqui diferentes raças construíram uma sociedade com uma riqueza incrível de biótipos. O brasileiro do Nordeste é diferente daquele da Amazônia. Ambos diferem daqueles do Sudeste e do Sul. A língua oficial do Brasil é o português, mas há formas distintas de expressão neste idioma dentro dos nossos limites. Sotaques, entonações e designações, muitas vezes diferem apenas atravessando a fronteira de um estado para outro. Saindo do Maranhão para o Pará, por exemplo, deixamos de tomar suco de cajá, para saboreá-lo como taperebá. Os amazonenses não gostam quando se chama castanha do Pará, o que para eles é do Brasil. Potiguares pedem “bigu” em vez de “carona”. Gaúchos quando acham algo muito bom dizem que é “trilegal”. “Cofo”, somente é conhecido no Maranhão. Para os não maranhenses, se trata de um cesto feito de folhas jovens da palmeira de babaçu. Os mineiros identificam qualquer objeto por “trem”.
Contudo há desigualdades sociais e econômicas que insistem em permanecer, apesar de retóricas que não encontram respaldo em evidencias. O Brasil segmentado, desigual e apartado do ano 2000 é o mesmo do ano de 2010. Na Terceira Edição do meu livro que está publicado na internet desde o final do ano passado (http://www.bnb.gov.br/projwebren/Exec/livroPDF.aspx?cd_livro=224), eu consegui mapear ao menos cinco (5) brasis diferentes. Para facilitar a leitura eu mostro esses brasis num mapa colorido em que utilizei o Índice de Exclusão Social (IES) como instrumento de corte. O IES foi criado com o objetivo de estimar o percentual da população socialmente excluída nos municípios, estados, regiões e no Brasil. É composto de três indicadores: Passivo de educação, aferindo o percentual da população analfabeta maior de 15 anos; Passivo econômico, que afere o percentual de domicílios cuja renda total varia de zero a dois salários mínimos; Passivo Ambiental, que é uma média ponderada dos domicílios privados de acesso à água encanada, saneamento e coleta sistemática de lixo. Os cinco (5) brasis estão assim definidos: Brasil 1: inclui os estados que possuem mais da metade dos seus municípios com IES (percentual de socialmente excluídos) igual ou maior que 50%. Neste grupo estão todos os estados do Nordeste, excetuando Sergipe, mais o Pará, Amazonas e Acre. Brasil 2: composto dos estados que tinham entre 30% e 49% de seus municípios com mais da metade da população socialmente excluída. Nele estão os demais estados da região norte, menos Rondônia, e incorpora Sergipe. Brasil 3: contém os estados em que entre 10% e 29% dos seus municípios tem mais de 50% de população socialmente excluída. Neste grupo estão Minas Gerais, Mato Grosso e Rondônia. Brasil 4: estão estados que tinham entre 1% e 9% dos seus municípios com mais de 50% da população socialmente excluída. Neste grupo encontram-se todos os três estados do Sul, mais Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Brasil 5: engloba os estados que tinham menos de 1% dos seus municípios com mais de 50% da população excluída em 2010. Deste grupo constam São Paulo e Distrito Federal. De onde se depreende que nesses estados as condições de vida são bem melhores do que nos demais. São Caetano do Sul, em São Paulo, é o município com menor IES do Brasil em 2010.
Encontraremos estados distintos dentro de um mesmo estado. Nos mais pobres são mais gritantes as ilhas de riqueza e opulência, encravadas num continente de pobreza. Maranhão, Alagoas e Pará saltam aos olhos porque são estados em que uma família (casos do Maranhão e do Pará) ou duas famílias (em Alagoas) se apropriaram dos seus domínios, das suas riquezas, construíram impérios de comunicação (que utilizam para destruir adversários) ancorados nas benesses dos cofres públicos, tendo uma multidão carente que assiste a tudo impávida e lhes validando sistematicamente os poderes através do voto, numa democracia em que o dinheiro pode tudo. Inclusive transformar vilões em heróis.
Convivemos num país em que agricultores prósperos, geram e acumulam riquezas com investimentos pesados e tecnologias. Mas tem outro Brasil rural, sobretudo no Nordeste e na Amazônia, que pratica agricultura com tecnologia rudimentar, sem assistência técnica, dependente de fatores naturais para produzir alguma coisa.
Há o Brasil verdadeiro, com os indicadores mostrados acima. Todos os dias o vemos ao sairmos de casa, sob a forma de “flanelinhas”, “limpadores” de pára-brisas de carros nos semáforos, submoradias em áreas de risco, garotas se prostituindo, garotos se drogando e violência. Mas tem o Brasil virtual, “bombando” desde 2003, apesar do “pibinho” e do recrudescimento da inflação. Uma cópia piorada dos tempos de “Este é um País que vai Pra Frente”. Ao menos naquela época o PIB crescia às taxas chinesas de hoje. O Brasil surreal que “está acabando com a miséria extrema”, que “incorporou favelados à classe média”. Um país que o mundo civilizado insiste em não seguir o exemplo, para também experimentar as benesses que a população de Pindorama, virtualmente, usufrui.
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*Artigo publicado em 23-02-2013