José Lemos
Na história recente do Brasil o surgimento de homens e mulheres com um mínimo de discernimento e comprometimento com os anseios públicos tem sido bem mais raro. Fazendo um breve retrospecto, nos reportando para o início os anos sessenta, depois da euforia da criação de Brasília, onde praticamente se inicia a derrocada da hiperinflação pela qual o País passaria até 1994, nossos pais e avós depositaram a esperança em Jânio Quadros. Ele havia prometido acabar com a corrupção e tinha como símbolo da sua campanha uma vassoura. Instrumento que, segundo ele, usaria para limpar toda a corrupção então reinante. Um discurso populista e pseudomoralista que contagiou parte da população brasileira que acreditou naquele discurso e o elegeu. Com pouco mais de seis meses de mandato, em agosto de 1961 ele renuncia de forma irresponsável e mergulha o País num caos politico.
A posse do Vice-Presidente, João Goulart nunca foi bem recebida pelos inquilinos dos quartéis de então. Tanto que em final de março e início de abril de 1964 aconteceu o movimento dos militares que depôs o Presidente e instalou um regime de exceção no Brasil. Período de grande perturbação social e política, mas que viabilizou, em alguns momentos, lampejos de progresso econômico, como foi na época do “Milagre Econômico” entre 1968 e 1973.
Mas a riqueza gerada no Brasil foi apropriada de forma muito concentrada, de tal sorte que as desigualdades entre as regiões, entre os estados, dentro das regiões e dentro dos estados se acentuavam. A inflação disparava, a população empobrecia. A desesperança campeava.
A efervescência política fez com que lentamente a sociedade brasileira começasse a reagir e os militares ficando acuados. Em 1979 aconteceu a anistia. Seria o momento em que o País se retomaria lampejos de liberdades democráticas que se manifestariam com toda pujança no ano de 1984 com o movimento das “Diretas Já”, que tinha como mote trazer de volta para os brasileiros a eleição para Presidente da República. As pessoas nas ruas estavam com um alento de esperanças. Parecia que eleger o Presidente com o voto direto funcionaria como panaceia.
O Congresso Nacional deu as costas para a população brasileira e manteve a eleição indireta com colegiado ampliado. Contudo, os brasileiros que tiveram no começo o sentimento de frustração, passaram a acreditar que o mineiro Tancredo Neves, que se lançara candidato por via de uma ampla aliança, poderia resgatar parte daquela frustração. Novamente as esperanças voltaram. Tancredo se elege indiretamente, contra a vontade do Partido dos Trabalhadores e a sua estrela maior, Lula. O Brasil ficou feliz. Parecia que a eleição houvera sido pelo voto popular. Mas no dia da posse, 15 de março de 1985, ele adoece e morre em 21 de abril. Mais uma cipoada nas esperanças dos brasileiros. Pior, assumiria como Presidente um homem que sempre esteve fortemente vinculado ao regime militar que o País queria extirpar. Naqueles cinco anos de mandato de Sarney o PT e o seu mentor maior, “lavaram a égua”, vendendo a falsa ideia (hoje sabemos) de que eram éticos e contra tudo aquilo que a “Nova República” representava.
Cinco anos de tormenta. Turbulências. Inflação galopante. PIB em queda. Presidente sem qualquer poder de decisão, acuado. Muito parecido com o que vivenciamos hoje. Vieram as eleições de 1989, agora pela via direta e, novamente os brasileiros estavam esperançosos. Venceu o “Caçador de Marajás” derrotando Lula que na época, pasmem, era a esperança de mudança. Muita gente acreditou. Inclusive este escriba. Foram mais dois anos de regressão em tudo. No final de 1992, Collor é deposto e assume Itamar Franco. Um homem reconhecidamente honrado. Ali começaria uma nova fase de esperanças com o lançamento do Plano Real, com a forte e doentia oposição petista. Embalado no sucesso do Plano Real, Fernando Henrique Cardoso ganha a eleição e assume em dois mandatos seguidos. Continua o processo de estabilização monetária e são criadas as condições para que o salário mínimo crescesse em valores reais. A inflação estava sob controle. Foram criadosos programas de transferência de renda que funcionariam como “colchões” amortecedores das carências que continuavam elevadas Brasil. O Partido dos Trabalhadores e o seu candidato a presidente, Lula, chamaram aqueles programas de eleitoreiros.
Depois de três tentativas, finalmente Lula se elege Presidente da República. No primeiro momento todos nós que o apoiamos acreditávamos no que dizia. Finalmente o Brasil tinha um Presidente que era muito parecido com a maioria da sua população. Mas o moço se empavonou. Ganhou ares de celebridade, enriqueceu, adquiriu hábitos que acusava antes as elites de ter: principalmente os piores. Aproveitou-se da docilidade dos brasileiros e nos impôs uma Senhora despreparada para ser presidente. Com isso mergulhou o país na maior crise econômica, moral, ética e administrativa de que se tem noticia. Contudo, as esperanças voltaram com a possibilidade de nos livrarmos deles. O problema é que não vislumbramos no cardápio disponível de opções qualquer político que nos possa sinalizar por melhores dias. Apenas temos uma certeza. Qualquer um será menos pior do que o grupo que está no poder há mais de doze anos.
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*Texto publicado no dia 15/08/2015 no O Imparcial e no dia 16/08/2015 no Jornal Pequeno.