José Lemos
Nos meus tempos de garoto, em São Luis, o meu sonho era ser jogador de futebol. Tanto assim que andei fazendo algumas incursões nas divisões de base do meu time do coração, o Sampaio Correia. Sem falsa modéstia, eu levava jeito. Drible fácil, e uma boa visão do jogo, esboçava passes de média e longa distancia, com alguma precisão. Jogava no meio campo, onde atuavam os jogadores de criação das jogadas mais agudas. Embora destro, eu batia bem com os dois pés. Depois tive descolamento de retina e não pude mais jogar futebol. Uma das minhas frustrações. Mas recuperei a visão completamente.
Enquanto menino e adolescente era fanático por futebol. Daqueles de sempre encontrar um jeito de ir para o estádio torcer pelo meu time. A grana era sempre muito curta, mas eu fazia alguns “biscates” como auxiliar de alfaiate (profissional que desenha e costura roupas masculinas), pregando botões, fazendo acabamentos em calças, ternos. Era a forma que encontrava para ajudar no orçamento apertado dos meus pais, e reunir algum dinheiro para ir ao estádio e às vesperais nos cinemas, minha outra paixão.
Na maioria das vezes a grana não dava para pagar a entrada do Estádio Nhosinho Santos. Mesmo assim eu, e alguns colegas, íamos para lá esperar o que se chamava de “enxurrada”. Termo usado para designar a abertura dos portões nos dez a quinze minutos finais das partidas para que aqueles que queriam sair mais cedo o fizessem. E nós entrávamos ali para os nossos quinze minutos de glória. Bons tempos aqueles!
O sonho de ser jogador de futebol, não foi obstáculo para as minhas atividades de estudante. O Liceu maranhense foi a escola da minha vida onde, em sete anos, conclui ginásio e curso médio, saindo direto para a Escola de Agronomia da Amazônia, em Belém.
Em Belém assumi o Clube do Remo como meu time. Concluído o Curso fui para Porto Alegre fazer Mestrado na UFRGS. Como o Grêmio de Porto Alegre havia contratado um craque do Remo para ser o seu centro-avante, me incorporei à avalanche de torcedores do tricolor gaúcho. Aos domingos, já mais folgado de grana como bolsista da EMBRAPA, ia para o Estádio Olímpico (do Grêmio) ou para o Beira Rio (do Internacional), assistir às partidas do campeonato gaúcho. Era uma emoção indescritível assistir ao vivo um Gre-Nal em um daqueles dois palcos virtuosos lotados, em seus tempos áureos de futebol-arte com Falcão, Paulo Cesar Carpegiane, Alcindo, Dadá Maravilha, Figueroa…
Os Estádios eram templos onde se praticava futebol. Por incrível que pareça. Ainda não existia a praga das torcidas organizadas, com a sua violência. Isso é invenção recente que afugentou muita gente dos estádios. Além disso, o futebol se mercantilizou de uma forma, que tirou muito da sua magia e da sua fantasia. Os jogadores, artistas da bola, malabaristas dos dribles, geômetras que faziam a bola desenhar curvas sensuais em passes longos, praticamente desapareceram. O futebol arte virou esporte de “pegada”. Como o definem hoje tanto jogadores como treinadores. A figura do técnico virou mito. Os “professores”, como assim os chamam os jogadores, brucutus na maioria, são os donos da verdade. Alguns deles são intragáveis pela arrogância com que se manifestam, sobretudo quando vêem uma câmera de TV ou um microfone na sua frente.
No próximo ano o Brasil sediará a copa do mundo. Um evento que expõe a incrível capacidade de governantes cometerem ilícitos, a olhos vistos, e tudo continuar normal. Transformaram estádios em “Arenas”, que no “Novo Dicionário do Aurélio” tem as seguintes definições: “área central, coberta de areia, onde combatiam os gladiadores”; “terreno circular fechado para corrida de touros”; “estrado alto para lutas de boxe”.
Como se depreende por essas definições, faz sentido a “genialidade” de quem teve a “luminosidade” de chamar os palcos da Copa com esta designação. Nelas os “gladiadores” de cá e de alhures exibirão o seu “talento” maltratando a bola. Algumas dessas novas “maravilhas”, como as “Arenas” de Manaus, Natal, Brasília, Cuiabá, Fortaleza, Recife, Salvador, estão condenadas a, depois da copa, servirem de pastos para traças, ratos, e outros roedores, sobretudo bípedes, se “digladiarem” pelos espólios.
A maioria dos brasileiros não poderá entrar nas “Arenas” para assistir aos “combates”, porque os preços dos ingressos estão fora do seu alcance. Mas nos ufanaremos em realizar a “mais bela copa de todos os tempos”, como bem ensinou a Presidente, em momento de “raríssima lucidez”. E viva o Brasil! Impassível, inerte, assistindo a tudo deitado em berço esplendido, tendo como guardiões: Dilma, Renan, Henrique Eduardo. Todos bem aconselhados por neo-esquerdistas como: Sarney, Romero Jucá, Temmer, Collor, Jader Barbalho, Maluf, e o maior “çabio”, desde que Cabral aportou por aqui, Lula.
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*Texto publicado em 9/02/2013.