José Lemos
Com o potencial, e com a vocação agrícola que possui, o Maranhão poderia se constituir em um dos estados brasileiros maiores produtores de alimentos e matérias primas de origem vegetal e animal. O setor rural maranhense poderia ser um dos mais promissores e produtivos do Brasil de um ponto de vista efetivo, haja vista que sempre o foi e continua estando, apesar dos descasos, nesta condição de forma potencial. Isto se daria por causa da sua ainda farta e diversificada disponibilidade de recursos naturais.
Há no Maranhão uma diversidade de biomas que o diferencia dos demais estados brasileiros, em que praticamente se encontram todos os ecossistemas que prevalecem no Brasil. Com efeito, no Maranhão se podem observar ecossistemas semelhantes ao Pantanal, na Baixada Ocidental, cerrados no sul e no Baixo Parnaíba, aonde vem se expandindo a produção de grãos, sobretudo de soja. No estado também se encontram paisagens de feições da Amazônia, tanto de um ponto de vista de revestimento florístico, como de recursos hídricos, pluviometria e elevada umidade relativa do ar. O Maranhão tem uma ampla faixa de litoral, a segunda do Brasil.
Há no estado ambientes típicos de sertão nordestino com vegetação rasteira e arbustiva semelhante à caatinga, com regime pluviométrico e evapotranspiração potencial muito parecida à que se observa em regiões semiáridas, como já demonstrei em trabalhos científicos inclusive apresentados em congressos científicos. Na maioria do estado, com exceção do que acontece no seu semiárido, ainda não devidamente reconhecido pelo Governo Federal, prevalece um regime de precipitação de chuvas quantitativamente satisfatório, com pluviometria média acima de mil e com picos que se aproximam de dois mil milímetros anuais, formando dois períodos definidos: um seco e outro chuvoso. Grande parte do cerrado maranhense está revestida com palmeiras de babaçu, que ainda tem importância social para segmentos importantes da população rural do estado, formando maciços secundários dominantes em algumas áreas. Caso dos municípios da região dos cocais que tem grande incidência no Médio Mearim.
Além disso, o Maranhão possui amplas bacias hidrográficas perenes e um grande reservatório de água de boa qualidade no subsolo. Geograficamente posiciona-se na área de transição entre o Nordeste seco, a Amazônia úmida, o cerrado do Centro-Oeste e o Oceano. Este com diversificada e rica fauna e flora, com extensas dunas de areia, cuja maior visibilidade está atualmente no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. No encontro dos rios de água barrenta do estado com as marés desenvolve-se uma imensa área em extensão de manguezais, seguramente um dos mais ricos, diversificados, férteis e importantes ecossistemas do planeta. No Maranhão está a segunda maior área continua de manguezal brasileiro, ora argiloso ora arenoso. Manguezal que se estende para o Pará e Amapá formando um enorme corredor, que está entre os maiores do mundo. Um santuário ecológico que se presta a ser dormitório e para reprodução de aves (os guarás são as mais belas), mamíferos e de caranguejos, sobretudo o uçá. Espécie em franco processo de desaparecimento devido à forma predatória com que é catado e transportado para as áreas de intenso consumo. Em Araioses, um dos municípios mais pobres do Brasil, a catação de caranguejo é a única fonte de renda de muitas famílias das áreas rurais. Sem alternativas, essas famílias são obrigadas a exercitá-la, inviabilizando a reprodução e o crescimento da espécie que é praticamente toda exportada para o Ceará onde é vendida a preços exorbitantes, muito distantes daqueles recebidos pelos remotos catadores daquele município maranhense.
Contudo a maior riqueza do Maranhão é a sua população de 6,57 milhões de pessoas (36,9% nas áreas rurais), segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2010, que está ávida por encontrar condições para deslanchar e construir o seu próprio destino. Sendo assim, por que então o estado apresenta os indicadores sociais e econômicos mais críticos deste Brasil? Por que há tanta devastação dos recursos naturais, sendo os casos do caranguejo e das palmeiras de babaçu exemplos mais visíveis deste processo? A resposta está na forma como vem sendo governado. O passado recente mostra que com apenas reversão de prioridades, trabalho com seriedade, responsabilidade, compromisso com a maioria da população, conhecimento das potencialidades e dos problemas, o estado pode deslanchar um circulo virtuoso de progresso que inclua a maioria da sua população, flexionar positivamente indicadores sociais, econômicos, recuperar e preservar a nossa riqueza de recursos naturais. Este ano de 2014 é decisivo. Nas mãos e na consciência dos maranhenses está a possibilidade de reverter o atual quadro ou mantê-lo. A minha expectativa é que não continuemos masoquistas. Retirando da nossa frente o entulho autoritário que não nos deixa avançar, construir o nosso próprio destino e que pelo conjunto das ações, nos causa dor e tormento. Este será o ano do Maranhão. Se Deus quiser. E Ele quer porque além de brasileiro, agora adotou a nossa terra como berço depois de assistir a tantos desmazelos.
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Artigo publicado no O Imparcial do dia 15/02 e no Jornal Pequeno do dia 16/02/2014