José Lemos*
Fim de ano, época de confraternização, muita comida, bebida, abraços, troca de mensagens carinhosas, de afetos, de desejos (sinceros ou não) de um Feliz Novo Ano. Na virada do ano as pessoas se manifestam com todos aqueles sentimentos, mas também soltam fogos em profusão, fazendo um enorme barulho para anunciar a chegada de uma nova era. Existem os shows pirotécnicos, bonitos para ver e se deliciar.
Tudo isso é muito bonito para nós seres humanos, mas tem outros impactos sobre os animais. Todos eles ficam muito assustados, estressados com os ruídos intensos provocados pelo estalar dos foguetes. Alguns mais frágeis, de um ponto de vista cardiovascular, chegam a morrer, ou a ter problemas que lhes deixam sequelas.
Evidente que não temos o poder de impedir que as pessoas se manifestem, “explodam” os seus sentimentos em momentos de alegria. E a mudança de ano é um desses. Mas podemos tomar algumas atitudes que amenizem o sofrimento desses outros co-habitantes do nosso planeta. Tão importantes para o equilíbrio dele como nós mesmos, apesar de nem sempre termos este reconhecimento.
Os animais de estimação preenchem uma lacuna importante nas nossas vidas. Eles nos dão carinho, fidelidade, proteção de forma incondicional. Há pessoas que têm nesses animais as únicas companhias. Sobretudo idosos que, por algum motivo, estão privados da presença dos filhos, netos e de outros parentes. Jovens também cultivam o hábito de ter um animalzinho de estimação para chamar de seu e dedicar amor e afeição. Nunca, podem ter certeza disso, na dimensão em que esses animais nos retribuem. O amor que eles nos devolvem é muito maior do que aquele que lhes doamos.
Esses animais, por óbvio, merecerão e devem merecer sempre, a nossa atenção no momento em que estiverem sendo explodidos os foguetes que lhes provocam aqueles sentimentos estressantes. Fiquemos por perto deles. Deixemo-los se sentir seguros, sabendo que pessoas que lhes amam estão por perto para lhes proteger.
Mais dramática do que a situação dos nossos bichos de estimação, é aquela experimentada pelos animais de rua. Normalmente já tem vida difícil. Batalham para conseguir um resto de comida nos lixões. Bebem água poluída nas sarjetas. São escorraçados por nós, enxotados, maltratados, vilipendiados… Normalmente já têm, literalmente, uma “vida de cachorro”, mesmo não sendo necessariamente caninos. Esses animais precisam também do nosso carinho, da nossa atenção. Eles, mais do que os nossos que nos terão por perto com abrigo seguro e afago, não têm momento de tranquilidade quando começam a explodir os fogos. Muitos morrem. Imagine-se, você mesmo, andando sem rumo, sem local definido para ficar, sem ninguém para lhe chamar de seu, sem amor, sem carinho, sem afago e ainda por cima tendo nos tímpanos muito sensíveis o barulho de explosões que eles não conseguem entender as razões. Procuram desesperadamente um abrigo e não encontram…
Podemos fazer muito por esses animais. Idealmente encontrando alguém que os adote e lhes dê amor. E nestes momentos de alegria que passaremos nesta nova virada de ano, fazer algo sempre que ver um animalzinho desses por ai perambulando assustado. Chamar para perto. Passar a mão na cabeça dele. Falar palavras carinhosas. Eles entendem tudo isso, e respondem com um olhar carinhoso. Ficam mais tranquilos. E, melhor do que tudo, se tornam nossos amigos. Vale a pena cultivar-lhes a amizade.
Experimente fazer assim. O planeta terra agradecerá.
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José Lemos é Professor na Universidade Federal do Ceará. Gosta de animais, de plantas, de rios, de gente, do arco-íris, de cheiro de chuva no chão, da natureza em fim….
Artigo publicado em 31/12/2015.