José Lemos*
Em junho de 2017 o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas produziu o documento: Perspectivas da População Mundial: Revisão de 2017. Esse documento estima que a população do planeta terra em 2017 era de 7,6 bilhões de pessoas, e que chegará a 8,6 bilhões em 2030. As projeções são ainda mais dramáticas para o final deste século para quando as Nações Unidas projetam que estarão como inquilinos transitórios deste planeta não menos do que 11,2 bilhões de pessoas.
Fiquemos nos números mais próximos de nós. Nos atuais 7,6 bilhões de terráqueos, e façamos alguns exercícios numericamente conservadores acerca do que pode acontecer com a demanda por comida. Um exercício que eu sempre faço com os meus estudantes em sala de aula, tanto de graduação como de pós-graduação. Certo que se trata de um grupo socialmente privilegiado, mas eu insisto apenas para lhes colocar diante de uma realidade que está na nossa frente e não a vemos devido à obviedade que é sairmos de casa e encontrarmos nas prateleiras dos supermercados, nas feiras livres, nos mercados, a comida que queremos comprar. Caso tenhamos renda para tanto, claro.
Pois bem. O exercício que eu faço com os meus estudantes é lhes perguntar quanto eles avaliam que comem por dia nas três refeições convencionais da grande maioria de nós: café da manha, almoço e jantar. No meio dessas refeições tem as “merendas” como chamamos no nosso Maranhês que devemos cultivar.
Jovens, transbordando de vigor e com elevado metabolismo, me respondem que comem aproximadamente dois (2) quilogramas por dia. Ou uma quantidade em torno dessa média. Como eu já faço esse exercício faz um tempão, em praticamente todos os semestres, e as respostas gravitam em torno deste valor, eu acredito que esta quantidade não está muito distante da real demanda diária de comida por parte de pessoas como eles que, como falei, não são regras para a maioria da população brasileira e eu diria, sem medo de cometer equívocos, do mundo. Os leitores deste texto podem tentar estimar a sua própria demanda diária de comida para refutar ou acatar essa média.
Então eu faço com eles o exercício que tentarei fazer com os meus leitores. Imaginemos que, em média, cada terráqueo coma em todas as refeições diárias em torno de um (1) quilograma. Talvez esta seja uma média conservadora, como já adverti no texto. Mas vamos trabalhar com ela apenas para mostrar onde estou querendo chegar.
Como sabemos, alimentação é uma das duas funções vitais de todos os seres vivos. A outra é a perpetuação da espécie, que apenas acontecerá em organismos nutridos. Portanto, temos que comer todos os dias, também para nos reproduzir. Com essa estimativa conservadora, o planeta terra tem que produzir não menos do que 7,6 bilhões de quilogramas (7,6 milhões de toneladas) de comida todos os dias. Esse montante, prevalecendo a previsão das Nações Unidas para o crescimento da população mundial, precisará atingir 8,6 milhões de toneladas diárias em 2030.
O Banco Mundial estimou que a área agricultável deste planeta em 2011 era de 49.052.959,5 Km2 , ou 49,05 bilhões de hectares. Admitindo que essa área ainda seja a mesma (provavelmente não será devido ao crescimento da população e à degradação de parte dela por várias ações humanas), teríamos em média 6,45 hectares por terráqueo neste momento. Em 2030 a área agricultável por pessoa terá reduzido para 5,70 hectares, caso não devastemos parte dela, o que é uma previsão otimista.
Então, o cenário que se nos apresenta é uma redução das áreas agricultáveis por hectare por habitante deste planeta. Devemos lembrar que, apenas parte da área agricultável será voltada para a produção de alimentos. Uma parte considerável deverá ser destinada à produção de agroenergia, como etanol, biodiesel…
Assim, para que não haja a crise de produção de alimentos haverá a necessidade de se produzir bem mais alimentos por hectare agricultável. Isso apenas será possível se a produtividade dessas áreas se elevar em ritmo ainda mais acelerado. O que apenas será possível com mais tecnologia agrícola que seja poupadora de terra e com o uso de cultivares de elevados rendimentos. Desafios para a Biotecnologia.
Neste cenário, países como o Brasil terão um papel ainda mais importante a desempenhar como produtores de alimentos para o mundo. O Banco Mundial estima que a área agricultável brasileira é de 2.750.300Km2 ou 5,61% da área agricultável do mundo. Considerando uma população de 204 milhões de brasileiro, a nossa disponibilidade de terra agricultável atual por pessoa é de apenas 1,35 hectare ano.
Esses números mostram o tamanho dos nossos desafios. Teremos que produzir nessas áreas que não aumentarão, ao contrário, tenderão a diminuir, comida para uma população que está em processo de expansão. Um desafio para todos nós. Acredito que estados como o Maranhão, com o seu amplo território, tem uma contribuição enorme a prover neste processo. Desenvolver tecnologias poupadoras de terra será o grande desafio para nós que militamos nas Ciências Agrárias. E nós não o refutaremos!
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Texto para o dia 18/03/2018.