osé Lemos
Muito já foi dito, especulado, inferido acerca do comportamento de uma pessoa que comete crimes em série como o fez aquele ensandecido que, entrou no “espaço sagrado da sala de aula” e fulminou adolescentes em plena fase de sonhos. Liquidou com a vida daqueles jovens, das suas famílias, criou traumas insuperáveis em meninos e meninas que viram os colegas serem trucidados e vislumbraram a possibilidade de também serem vitimas fatais daquele paranóico.
Os técnicos da Comissão Econômica para a America Latina e Caribe – CEPAL tentando explicar os desníveis entre as sociedades ricas e as pobres do continente Latino americano, ainda pela metade do século passado, concluíram que um das causas seria a dependência cultural que os países pobres tinham em relação aos desenvolvidos.
A submissão cultural consistia nas populações dos países pobres tentarem copiar o que as populações dos países ricos faziam. Por essa razão, ao buscarem assimilar a forma de viver daqueles que moravam nas economias ricas, tornavam-se usuários dos seus costumes e, por esta via, os países ricos iam expandindo as suas fronteiras econômicas e tornando-se mais ricos, enquanto que a periferia ficava mais pobre. Ali estaria, segundo os técnicos da CEPAL, não a única, mas uma das mais importantes causas dos desníveis sócias e econômicos que tendiam a se agravar no tempo.
Por isso é que produtos como coca-cola, “fast food”, jeans, as blusas com frases escritas em inglês, tênis de marcas importadas, música, filmes, peças teatrais se difundiam e “faziam a cabeça” das populações dos países pobres.
Um dos bons resultados dessa cooptação de hábitos foi a música dos Beatles em que o mundo inteiro absorveu belas melodias que ainda hoje fazem a cabeça de muitos jovens em todo o planeta. No vácuo criado pelo movimento que ficou conhecido como “beatlemania”, que incluía forma de vestir, novo visual, surgiram inúmeros agrupamentos musicais no mundo e no Brasil. Sem duvida uma bela influencia cultural.
Veja-se que o diagnóstico dos técnicos da CEPAL foi feito numa época em que a comunicação de massa não era globalizada. O meio de difusão então mais usado era o radio. As grandes rádios como Nacional do Rio de Janeiro, Record e Bandeirantes de São Paulo, tentavam seguir uma programação muito parecido com o que era produzido lá fora e divulgavam informações e músicas que marcaram gerações.
Contudo, a “transferência cultural”, já por aquela época, incluía atos de violência. Os meios de comunicação, primeiramente o rádio, e em seguida a televisão encarregavam-se de massificar a informação, com riqueza de detalhes, de barbaridades que aconteciam nas economias ricas. Dentre essas atrocidades, a invasão de colégios por paranóicos sempre foi uma constante. Razões injustificáveis levaram alucinados a cometerem atos de violência contra jovens em pleno “ambiente sagrado da sala de aula”. Isto era assimilado por mentes pervertidas que achavam que poderiam também ter o seu “momento de gloria”. Uma “exportação cultural” nefasta, sem dúvida.
O que se viu em Realengo foi algo muito parecido com isso. Uma pessoa repleta de recalques, cheia de problemas, um esquizofrênico, inspira-se no modelo da violência importada e liquida vidas inocentes, mas que também influenciará negativamente o futuro daqueles que sobreviveram àquela hedionda chacina.
O ambiente da escola deve ser, por natureza, um espaço de livre deslocamento e pensar. Os conflitos ali devem ser sempre de idéias. Num ambiente que reúne crianças e adolescentes, alem da troca de conhecimentos, deve haver espaço para que exercitem as energias, as vitalidades, as irreverências para que construam os sonhos tão comuns nessa , que é a fase mais bela da vida.
Partir para a paranóia de colocar grades de ferros, cadeados, barreiras físicas para tentar contornar o problema da insegurança nas escolas não será a melhor solução. Quem estudou nos Estados Unidos, viu que os Campi e as escolas são muito policiados com homens equipados com o que há de mais moderno. Contudo, é de lá que se “exportam” algumas das mais dantescas cenas de barbárie em colégios e universidades.
O que fazer então? Acho que esta deve ser uma discussão que precisa ser encarada por todos: educadores, pais, jovens, governantes, meios de comunicação. Precisamos encontrar uma saída que não será mágica nem terá condições de prosperar se for feita de forma imediatista no clamor da convulsão social.. A solução para ser definitiva precisa ser refletida t de forma plural. Creio eu.
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*Artigo escrito em 20 de abril de 2011.