José Lemos
Dias atrás circulou na internet uma mensagem que mostrava o Primeiro Ministro da Inglaterra, David Cameron, em pé num trem de metrô de Londres, lendo de forma concentrada o jornal do dia. Nenhuma das pessoas que estavam confortavelmente acomodadas nas suas cadeiras se dignou levantar para ceder lugar ao mandatário de fato naquele poderoso país europeu. Nem ele, pelo que se depreende da fotografia, usou aquela célebre frase brasileira: “sabe com quem está falando?” Óbvio que nas cidades brasileiras, com honrosas exceções que são diminutas, não há transporte coletivo digno para qualquer cidadão. Este é o pesadelo de quase todas elas. Mesmo que a tivéssemos acho pouco provável que uma cena daquelas acontecesse no Brasil.
Por aqui o normal é quem detém algum poder abusar dos recursos públicos em proveito próprio. Veja-se o caso recente do uso de aviões da FAB pelos Presidentes da Câmara, do Senado, pelo Ministro da Previdência. O caso do Governador do Rio de Janeiro é exemplo extremo de desrespeito e de escárnio. Mas ele esteve contrito na fila do beija-mão do Papa. Sem qualquer cerimônia. Um Papa que vem dando demonstração de desprendimento, que bate de frente com a forma de agir daquele e de tantos outros que detém poder neste País.
Nos últimos dois sábados eu ousei apresentar sugestões que, na minha avaliação, poderiam juntar-se ao portfólio de alternativas, que certamente existe, visando encontrar saídas para o caótico transito de nossa capital. E isso é pra ser feito logo. Não há mais tempo a esperar. As pessoas não agüentam mais aquele marasmo, aquela lentidão que enerva e provoca danos irreparáveis à saúde, como o estresse, por exemplo. Dia desses desci a Rua Grande, saltando do ônibus que demorou longas duas horas para fazer o percurso do Cohatrac à Praça Deodoro. Aproveitei aquela viagem para agir como observador-pesquisador e assim sentir como aquela gente padece para se deslocar. Eles experimentam TODOS OS DIAS aquele calvário. Desci a Rua Grande andando, como fazia nos tempos de Liceu. O cenário que se descortina é tenebroso. Poluição visual, sons nas alturas, músicas de gostos discutíveis, sujeira nas calçadas e na via, empregados das lojas avançando sobre indefesos transeuntes querendo-lhes ganhar no grito. Literalmente!
A Prefeitura de São Luís está preparando o Plano Plurianual (PPA). Em minha opinião despretensiosa, algo precisa ser feito para mudar aquela forma de comercializar na Rua Grande. Não existe aquilo em grandes cidades do mundo. Nos países mais civilizados há leis que proíbem terminantemente o barulho, a poluição visual, o jogar lixo nas ruas. Os prédios antigos estão modificados, descaracterizados. Ao menos não mudaram a fachada do Prédio do Cine Eden. Mas deixaram o nome quase ilegível.
Mas o transito caótico talvez seja apenas a ponta do iceberg que faz da nossa São Luis uma cidade desumana. Lugares bucólicos que reuniam pessoas como as praças do centro da cidade estão entregues ao abandono. Há lugares ali em que se respira um forte cheiro de urina humana. Seria o caso de revitalização daqueles logradouros, talvez fazendo calçadões exclusivos para pedestres, com áreas de lazer para adultos, jovens e crianças. O importante é encontrar formas de revitalizar aquelas áreas que marcaram as vidas de tantos maranhenses, inclusive daqueles da minha geração. Fazê-las também parte dos jovens de hoje. Eles, como toda a população da cidade, merecem um tratamento mais humanizado.
São Luis está dominada pelos carros, sobretudo os particulares. As calçadas que eram para pedestres, viraram locais de estacionamentos. O “consolo” é que o mesmo acontece em Fortaleza, Belém, Recife, e em quase todas as grandes cidades brasileiras. Pedestres disputando, em desvantagem evidente, com veículos de todos os portes e pesos, porque as calçadas estão empilhadas de carros.
Falta para São Luis um Parque, um Bosque. Quase toda cidade tem um ambiente assim. Temos ao menos dois locais em que podemos construir um espaço destes. No Itapiracó há uma reserva enorme. Por ali eu pratico as minhas corridas quando estou em São Luis. Ali foi feita uma calçada que seria para pedestres, mas que está bastante avariada. Seria o caso do PPA prevê a captação de recursos via Parcerias Público Privadas para fazer dali um espaço de lazer e de estudos. Cercar toda a reserva com muro alto. Construir trilhas internas para passeios ecológicos monitorados. Colocar bancos rústicos, mas confortáveis. Iluminar e manter vigilância diuturna. Construir dentro do parque uma espécie de anfiteatro onde crianças, jovens e adultos possam ter exposições audiovisuais da exuberância da natureza que ali se manifesta. Convidar Professores de Botânica da UFMA e da UEMA para coordenarem um mutirão de catalogação das espécies vegetais existentes. Nomeá-las com placas para que sejam objetos de aprendizado. Construir um enorme viveiro em estufa climatizada, onde serão cultivadas flores tropicais, espécies ornamentais e um borboletário para nos encher os olhos e a alma de prazer. Algo parecido poderia também ir para o que restou da reserva Rangedor. Os ilustres Deputados poderiam tomar a iniciativa e, junto com a Prefeitura, fazerem também ali um espaço lúdico, de reflexão e de estudos. Será que é tão difícil tornar a nossa terra mais humanizada? Um lugar para nos orgulharmos mais ainda? Transformá-la em Cidade Modelo para que visitantes do Brasil e do mundo saiam falando bem. Não quero acordar deste sonho tendo pesadelos com são esses de imaginar como é o cotidiano da nossa gente, sobretudo a mais humilde.
=========
*Artigo publicado nos dias 27 e 28 de julho de 2013.