José Lemos*
Quando a Policia Federal e o Ministério Público finalmente chegaram próximos de Lula e da sua família, experimentei vários sentimentos. Um deles foi de alívio e de esperança de que o Brasil finalmente possa ser um País igual para todos. O sentimento de que não há brasileiros diferenciados, como o próprio Lula falou certa vez referindo-se a Sarney de que ele, Sarney, não poderia ser incomodado por que era ser incomum.
Os leitores que tem me acompanhado nos últimos anos devem ter estranhado o titulo desta minha crônica. Amador que sou, mas “enxerido” (como diria um bom nordestino carregado de nosso sotaque) nesta difícil arte de escrever artigos para jornal, aprendi que uma boa estratégia para atrair o leitor para ler o que escrevemos até o final é colocar um título provocador. Chocante. Instigante. Foi a minha tentativa.
Vamos fazer uma viagem no tempo. Imagine-se nos idos de 1985, depois da queda dos militares, por ocasião do Presidente que se autodesignou como fundador da “Nova República”, que usou de todo o seu “talento” para “convencer” parlamentares de então para ganhar mais um ano de governo. Imagine o que lhe aconteceria se fosse acusado de receber ‘mimos” como um apartamento tríplex com 300 metros quadrados de área, preparado com todo esmero por empreiteiras interessadas em ganhar obras em seu governo, ou participar de empreendimentos ligados à Petrobrás. Lembrando que na época o nosso conterrâneo, então Presidente, foi acusado de distribuir canais de rádio e televisão através do seu então Ministro das Comunicações “Carlinhos Malvadeza”.
Refrescando a memória curta que nós brasileiros insistimos em ter, Lula, então uma das grandes lideranças da oposição, com o seu partido que tinha um talento incrível para fazer isso: oposição e bradar que dentro dele, partido (e no então já candidato a Presidente) estavam todas as virtuoses deste planeta, não tinham adjetivos publicáveis para o Chefe de Governo da “Nova República”. Na época as ruas lotadas de bandeiras vermelhas, tinham uma palavra de ordem: “Fora Sarney”. Alguém se lembra disso?
Depois assumiu a presidência o “caçador de marajás”, então inimigo mortal de todos nós que militávamos naquele partido. Sim, eu estava lá. Vieram as denuncias das obras mirabolantes da “Casa da Dinda”, as acusações feitas pelo próprio irmão, Pedro Collor, que foi reportagem de capa da Revista Veja que, naquela ocasião, para aqueles militantes e o seu líder maior, era uma revista que merecia toda a credibilidade.
Há um vídeo na internet mostrando Lula falando que os parlamentares precisavam apear do poder aquele Senhor que era tido e dito como corrupto para todos os que militávamos no PT. Fomos os “caras pintadas” e ali surgiram lideranças contundentes como uma que hoje é Senador pelo PT no Rio de Janeiro e, por uma dessas maledicências do destino, também é acusado de atos poucos republicanos. “Fora Collor” era a palavra de ordem que inundava as ruas repletas de bandeiras vermelhas.
Defenestrado Collor, a vítima da vez passou a ser Itamar Franco. Talvez a última das pessoas íntegras que sentou na cadeira de Presidente da República. Mas o PT afastou filiados seus, como Luiza Erundina, que cometeu o “pecado imperdoável” de aceitar ser Ministra do Governo Itamar. Itamar fez o Plano Real, contra a vontade do PT e do seu candidato a presidente. Lula foi para a televisão dizer que o programa era eleitoreiro e que não daria certo. Para azar dele, do seu partido, e ventura dos brasileiros, esta talvez tenha sido a única boa conquista de todos nós no passado recente. Mas a militância do PT bradava com toda a força: “Fora Itamar”.
Na onda do Plano Real que “bombava”, FHC se elegeu Presidente, derrotando Lula na sua segunda tentativa frustrada de ser Presidente da República. O PT e os movimentos sociais a ele vinculados estavam no encalço do Presidente. Quando teve a emenda da reeleição aprovada, o mundo veio abaixo. As ruas coloridas de vermelho requisitavam o “Fora FHC”, grande corrupto para aquela militância canina. Quando houve a mudança de regime cambial em janeiro de 1999, os Céus estremeceram. O neoliberalismo havia “chegado ao ápice”. A situação se agravou quando, vejam só, FHC lançou os programas: Bolsa Escola e Bolsa Gás. Quem foi para a televisão falar que aquilo era assistencialismo? Acertou quem respondeu: Lula. Ele mesmo! Ali se intensificaram as reivindicações do PT. A palavra de ordem agora era “Fora FHC”.
Ufa! Finalmente Lula se elegeu Presidente da Republica, não sem antes chamar Duda Mendonça (aquele que houvera sido marqueteiro de Maluf, entre outras “feras”) e fazer aquela carta aos brasileiros dizendo que não era bem assim. “Neoliberais somos todos nós” (quem diria!). Nós, que votamos e fizemos campanha para ele, apesar dessas posições contraditórias, respiramos aliviados. Finalmente teríamos um governo ético, sério. Do Povo. Um operário no poder. Uma utopia! A Petrobrás seria uma empresa respeitada no mundo. Antes não era, segundo vaticinava o PT oposicionista.
Treze anos depois vemos a Policia Federal e o Ministério público no encalço do homem “mais honrado desse (sic) país” suspeito de que está escondendo patrimônio adquirido com recursos de propinas pagas por empresários amigos, boa parte deles já atrás das grades. Além da fortuna dos filhos que moram de favor em imóveis suntuosos.
E a oposição brasileira está deitada em berço esplendido. Que saudades do PT! Na oposição. Ah, a situação seria bem outra… Uma pena! De Verdade!
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 30/01/2016.