José Lemos
O novo Ministro da Agricultura, que vai assumir no vácuo da avalanche de denuncias que envolveu o que saiu, reconheceu, candidamente, nas suas primeiras investidas do novo cargo, que nada entende de agricultura.
Fico pensando como alguém assume uma responsabilidade deste tamanho, sem ter o devido conhecimento. Tinha que ser no Brasil e num “Governo de Coalizão”. “Humildemente” chegou a dizer que vai consultar o ex-titular da Pasta para apreender como melhor fazer. Como aquele saiu sob uma saraivada de motivos degradantes fica-se na duvida como poderá ser didático para quem diz ser neófito em tão complexo sistema.
Anotei algumas “pérolas” pronunciadas pelo novo Ministro que é formado em Direito. Ele falou que “os agricultores brasileiros fazem milagres”. Deve ter lá suas razões, afinal como um setor que estava sendo administrado daquela forma foi capaz de se manter como o sustentáculo da balança comercial brasileira? O setor que consegue segurar, por vias reais, ou da geração de riquezas, a entrada de moedas conversíveis no Brasil.
Perguntado sobre a crise no Ministério da Agricultura, que afinal era a motivação que o tirou da condição de escudeiro da Presidente (esta foi, ao que consta, a qualidade curricular que o alçou à posição mais relevante na condução dos destinos da agricultura brasileira), ele saiu-se com outra “tirada magistral”. Ele disse-nos que a função dele como Ministro da Agricultura será “tratar com os números”. Como não especificou de que “números” estava falando, deixou um rastro de dúvidas. Afinal foi por causa de denuncias que envolveram números e cifras elevados mal explicados que o ex-ministro pediu demissão, se antecipando a uma situação que era irreversível.
Faz tempo que não se tem um profissional com formação na área de Ciências Agrárias na condução dos destinos da agricultura brasileira. Desde o Engenheiro Agrônomo Roberto Rodrigues, que esbanjou conhecimentos na condução da pasta e de quem não se ouviu falar de malversação dos recursos públicos, tão pouco de enriquecimento no cargo, não se tem alguém que conheça os complexos problemas da agricultura brasileira, nas suas dimensões biológicas, sociais, econômicas e ambientais.
Ao escolherem profissionais sem formação acadêmica dentro da área de Ciências Agrárias, os Governantes, tanto em nível Federal com em nível dos Estados e municípios, cometem um grande desserviço para quem se qualificou nesta área extremamente complexa e difícil. Qualquer um, que não seja agricultor ou profissional com formação na área (como os detentores de cargos de confiança), acredita que fazer agricultura consiste no binômio: retirar a cobertura vegetal existente usando fogo ou tratores com “correntões”, jogar as sementes na terra que a natureza fará o resto.
Na minha modesta avaliação, a redemocratização no Brasil trouxe, como subproduto nefasto, esta forma de tomada de poder. As coalizões fazem de tudo para conquistarem-no, desde os métodos mais ilícitos até a forma em que o partilham. Os cargos são distribuídos para os aliados, sem observar qualquer requisito de competência. A máquina pública brasileira tem um contingente de servidores contratados dessa forma, que é inimaginável em países civilizados. Ministérios ou Secretaria de Estado são destinados a um partido da coalizão de poder, que no Brasil tem chefes. Esses decidem quem irá ocupar os cargos. O Ministério da Agricultura é feudo do PMDB. O ex e o atual Ministro são da cota pessoal do Vice Presidente. Os demais caciques do partido irão indicar aqueles que ocuparão cargos nos demais escalões do Ministério.
As necessárias impessoalidade e competência técnica daqueles que devem assumir qualquer função publica não contam. O que vale é a militância, o vinculo partidário, ser amigo de um poderoso que faça parte da coalizão. Em nome daquilo que chamam de “Governabilidade” se cometem atrocidades contra o erário público.
Enquanto prevalecerem esses critérios de preenchimento das funções públicas no Brasil, em qualquer setor, o caos administrativo estará instalado. Quando um Ministro chega à função, não pela competência e conhecimento profundo sobre a Pasta, mas pelo fato de pertencer a um Partido que tem o Ministério como feudo particular, não se pode esperar muita coisa, a não ser a ocorrência de “milagres”. Não dele, claro. Mas dos agricultores, na sua faina daria e difícil. A nós que somos profissionais da área, restará observar as atrocidades cometidas contra um setor promissor e da maior utilidade para um País pobre como o Brasil. Setor que já demonstrou a sua capacidade de produzir alimentos, matérias primas, apesar daqueles que o administram sem conhecê-lo.
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*Artigo publicado em O Imparcial do dia 20/08/2011.