José Lemos
A passagem do Governador Jackson Lago era esperada, face ao agravamento do seu quadro, mas não precisava ser agora. Um brasileiro de grande envergadura nos deixa em momento em que precisamos de gente com a sua determinação e convicção para se contrapor ao lugar comum em que se transformou o meio político brasileiro, em que encontrar exceções como o Dr. Jackson, ficou difícil face a uma regra que nivela um contingente enorme deles por baixo.
O Dr. Jackson Lago sempre teve na honradez, no respeito à coisa pública, na ética, marcas da sua personalidade. Bem mais do que isso tudo, que já é muito nestes dias de hoje, teve respeito aos princípios de liberdade, fraternidade e igualdade.
Características que foram deixadas claras nas suas passagens como profissional de medicina, da sua passagem como Secretario de Estado, como Prefeito por três vezes da capital do estado, e como Governador por escassos dois anos e três meses.
Eu tive apenas uma oportunidade de conversar com o já eleito Governador, na antevéspera da sua posse em seu apartamento. Fiquei impressionado com o local onde morava. Normalmente pessoas que tiveram os cargos que ele experimentou se esmeram em mostrar pompas, começando pelo local onde moram. Em geral espaços luxuosos, cercados de serviçais. Nada disso eu observei naquelas duas horas em que fiquei no apartamento do Dr. Jackson, naquele já longínquo 29 de dezembro de 2006.
Ele havia-me convidado gentilmente para conversar sobre os problemas da agricultura do estado. Falou-me dos planos que tinha para o setor, e como imaginava conduzi-los. A minha postura foi de ouvir e dar sugestões pontuais sempre que ele me pedia. Claro que ele fez aquilo por deferência, devido ao cargo que eu ainda assumia. Pelo mesmo motivo eu apresentava sugestões e presenteei-lhe com um exemplar de um denso documento sob o titulo de “Um Projeto para o Maranhão” que eu havia escrito a partir das minhas observações da situação do estado. Foi uma conversa longa, profícua e que me serviu para conhecer de perto um homem que até então acompanhava e admirava a trajetória à distância física.
Não tínhamos, portanto, qualquer aproximação pessoal. A minha admiração por ele, começou das observações que sempre fiz da sua postura como prefeito de São Luis, quando eu passei a acompanhar a sua trajetória. Sempre que estava em São Luis em épocas de campanha ia aos comícios para ouvir-lhe. Gostava dos seus pronunciamentos.
Na campanha para Governador em 2006 fui daqueles que aderiu em primeira hora à sua postulação. Embora eu não tivesse como não tenho capacidade de influenciar na votação de quem quer que seja, nem em minha casa, nas horas vagas do cargo que exercia no Governo, e nos finais de semana, fazia alguns périplos pelo estado tentando trocar idéias de forma didática com a população maranhense acerca daquele momento político e delicado porque passava o nosso estado.
A eleição do Dr. Jackson Lago foi uma das mais belas manifestações de democracia que assisti na minha vida. Foi bonito ver aquela multidão alegre por ter conseguido colocar como seu Governador um homem com aquele perfil. Aquela noite de 29 de outubro de 2006 foi inesquecível para todos os que estiveram na Praça Maria Aragão. Havia ali a sensação de que finalmente se consolidariam no Maranhão os avanços que o estado já vinha experimentando a partir de abril de 2002.
Aquela vitória, ao tempo que deixava uma multidão incontida de felicidade, fez crescer naqueles que haviam sido derrotados a vontade e a necessidade de reverter a situação. Posição absolutamente normal, se as tentativas de mudar o quadro fossem pelas vias do voto direto. Se esperassem o desfecho do governo para, sobre as suas eventuais deficiências, tentarem voltar ao poder através do voto popular, que é a fonte de poder em qualquer democracia que honre este nome.
Não agiram assim. Conseguiram, via mandato judicial, sobreporem-se à vontade de todos aqueles que haviam elegido o Dr. Jackson, o seu legitimo Governador. Uma decisão que talvez nem mesmo o corpo de Jurados acreditasse que haja feito justiça. Foi uma paulada naqueles maranhenses que votaram nele, que se sentiram também cassados e desautorizados pela justiça brasileira para escolher o seu mandante maior.
Acredito que naquele dia 17 de abril de 2009, data do veredicto final, o Dr. Jackson começou a morrer de forma irreversível. Foi demais para um homem com o seu passado, com a sua história, com a sua dignidade ser apeado do poder naquelas circunstancias. Daquela data até o desfecho que se deu nesta semana, devem ter sido dias e noites de muitos sofrimentos, para ele e para os seus familiares. Tão difícil quanto a perda de um membro caríssimo para os familiares e para a população maranhense, sobretudo a que o elegeu para Governador, foi ouvir a forma cruel como lhe foi anunciada a morte em horário nobre no telejornal mais assistido do Brasil.
Fiquei pensando se aquilo foi má fé, ou se deram a noticia daquela forma, a partir do que vem acontecendo no Brasil. O pragmatismo dos telejornais, o imediatismo com que são veiculadas as notícias na televisão, não requerem maiores aprofundamentos em cada caso. Prefiro acreditar nesta possibilidade a admitir que a humanidade seja tão cruel ao ponto de num momento de muita dor de familiares e amigos próximos, um veiculo de comunicação de massas seja capaz de denegrir por motivações inconfessadas em rede nacional a imagem de uma pessoa. O Dr. Jackson foi nivelado naquele noticiário pelo que tem de pior neste Brasil. Outra grande injustiça que lhe foi feita, agora à sua memória de homem honesto e integro que foi.
Também devem ter sido ruim para os seus familiares as “notas de pesar” emitidas pela Presidência do Senado e pelo Governo do Estado. Se de fato pensavam do jeito que colocaram nas “notas”, por que não o disseram ainda em vida ao Governador? Por que não lhe deixaram governar? Por que não esperaram o próximo pleito, como acontece nas democracias, fazendo, oposição e críticas responsáveis, para então disputaram no voto o direito de governar o Maranhão?
Na minha modesta avaliação, acredito que melhor do que aquelas “notas” teria sido simplesmente o cumprimento dos ritos normais nestes casos. Simples assim.
=============
*Artigo escrito no dia 7 de abril de 2011 e enviado para o Jornal Pequeno de Sao Luis.