José Lemos
Esses movimentos separatistas que tomaram conta do Brasil, sobretudo depois que a Constituição de 1988, de certa forma facilitou o processo, tem causado mais estragos do que benefícios. Impressionante constatar que esses movimentos apenas acontecem nos estados pobres. Imagine o que aconteceria se alguém propusesse a divisão de São Paulo, Rio Grande do Sul ou Paraná. Seria bombardeado, inclusive pela grande imprensa.
Há pouco tempo, o atual grupo que está no poder no Estado do Maranhao e que havia perdido as eleições para Jackson Lago, jogava em duas frentes para voltar a mandar no Estado ou em parte dele. Uma das frentes foi pela via não democrática, através do golpe jurídico, que acabou prevalecendo. A outra forma, que caminhava em paralelo, era a divisão do Maranhão em dois estados. Com a manobra, sempre contando com a complacência de uma população paupérrima e que detém os piores níveis de escolaridade do Pais, iriam até o final, se a primeira investida não prevalecesse. A do golpe jurídico.
Na época do discurso separatista, a justificativa era a mesma dos que querem dividir o Pará. Os maranhenses do Sul estavam desassistidos pelo poder que ficava no Litoral, bem mais ao Leste na geografia do Estado. A divisão era a panacéia para a solução de todos os problemas dos dois estados. Depois que conseguiram retomar o poder, por via jurídica, os problemas dos conterrâneos do Sul desapareceram, como num passe de mágica. E nunca mais se falou em divisão do Maranhao. Não é interessante isso?
No Pará, o discurso é rigorosamente o mesmo. Segundo a falácia, as pessoas que moram nos espaços geográficos, do segundo maior estado da Federação, que querem transformar nos Estados de Carajás e de Tapajós, são desassistidos porque os poderes centrais, situados na capital, Belém “não se preocupam” com o bem estar daquela gente.
Quem ouve o discurso e a expressão corporal dos pregoeiros desta insanidade, fica impressionado como eles têm soluções acabadas para todos os problemas das populações que, por desventura, caírem no conto da emancipação dando credibilidade a eles.
Bom lembrar que quem gera riqueza são os trabalhadores e os empresários que, alem disso, pagam impostos diretos (imposto de renda) e impostos indiretos, que no Brasil é uma corrente de elos intermináveis. Esse conjunto absorve de nós quase quarenta por cento do que produzimos. Pois bem, os dois estados, se forem criados, não gerarão um único centavo a mais de produto ou de riqueza.
Criados os dois estados, serão necessários: mais dois governadores e mais dois vice-governadores, com salários diretos de aproximadamente R$20.000,00, cada um deles, e um montante de remuneração indireta (com seguranças, casa para morar devidamente abastecida, casa de veraneio, criadagem, motoristas, automóveis de luxo para locomoção….) que é de difícil aferição. Cada Governador nomeará ao menos 25 Secretários de Estado, com salários diretos em torno de R$15.000,00, que não inclui despesas com motoristas, carros confortáveis para deslocamentos, combustíveis. Cada Secretário terá um séquito de cargos de confiança para nomear, quase sempre obedecendo às demandas partidárias e familiares. Assessores que nem sempre precisam ter a competência adequada para o cargo. Todos irão ficar pendurados nas receitas do Estado que foi criado.
Cada estado novo terá três Senadores que irão se juntar aos 81 atuais para fazer a sua fortuna pessoal, ressalvadas as exceções, cada vez menores. Também virão uns quinze (15) Deputados Federais por cada novo Estado e em torno de trinta (30) Deputados Estaduais, em cada um deles. Deputados (estaduais e federais) e Senadores também terão, alem dos salários um monte de benefícios indiretos, tudo pago com o nosso suado trabalho.
Ó discurso dos apologistas da divisão do Pará, em três estados, é que esse é o caminho da redenção. Apenas não explicam de quem será a redenção. Para as populações divididas sobrarão os fardos maiores para carregar. Elas, que são acostumadas a trazer nas costas cargas pesadas de mandioca, peixes, ou açaí, que lhes dão o sustento, terão que incluir, na bagagem, uma penca de gente ávida por fazer fortuna e angariar poder.
O perigo de tudo isso é a divisão se consolidar. Porque há desinformação, associada a um estado de carências de uma plêiade de paraenses que acredita que as promessas são verdadeiras. Jogam com as esperanças de gente que busca qualquer ponta de iceberg para sair do sufoco. Naufragarão todos, se essa insanidade passar. Menos, claro, os de sempre, que se locupletarão e conseguirão o que sempre buscaram de fato. Enriquecerem às custas de uma população carente. Temos todos que dizer um rotundo NÃO a essa brutalidade.
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*Artigo publicado em 26-11-2011.