José Lemos
Nós brasileiros temos que lamentar a morte neste dia 13 de setembro do colega Expedito José de Sá Parente, Professor da nossa Universidade Federal do Ceará, no vigor dos seus quase setenta e um (71) anos que completaria no próximo mês de outubro.
Expedito Parente, como era mais conhecido no meio cientifico-acadêmico, que era Cearense de Fortaleza, foi um daqueles brasileiros que fazem pesquisa deste lado do Brasil e que lutou, com muita dificuldade, para ver reconhecido o seu trabalho. Não é fácil, na verdade é muito difícil para quem faz pesquisa no Nordeste conseguir um espaço para divulgar o seu trabalho num cenário nacional em que predominam os nomes daqueles que trabalham nas Universidades e Instituições de Pesquisas situadas no Sudeste.
O nome do Professor Parente está umbilicalmente ligado à patente do método de produção do biodiesel que conseguiu em 1983. Processo de extração de combustíveis a partir de frutos e sementes oleaginosas. Uma grande sacada tecnológica, haja vista que a partir daquela descoberta, foi possível a humanidade dar um salto no uso de fontes de energias renováveis. Não é pouca coisa! Isso porque nos anos setenta começara a discussão do conceito de desenvolvimento sustentável, que presumia a busca de padrões de melhores níveis de bem-estar para gerações de hoje, preservando o ambiente para as futuras.
Em 1987, portanto, quatro anos depois daquele marco histórico da patente conquistada pelo Professor Parente, a reunião das Nações Unidas em Oslo, capital da Noruega, produziu o Relatório de Brundtland (em homenagem a Primeira Ministra daquele País) que foi um verdadeiro divisor de águas na consolidação do novo conceito.
Aquele Relatório apresentou sugestões para os países buscarem o desenvolvimento sustentável. Dentre as opções sugeridas estava o uso de fontes alternativas que poupassem a natureza da energia advinda do petróleo e do carvão mineral. O trabalho do Professor Parente estava perfeitamente integrado àquele propósito e, mais do que isso, se constituía numa importante válvula de escape para que a nova ordem mundial, no que se refere ao uso de fontes alternativas de energia, pudesse ser reavaliada. Uma sacada de Mestre, literalmente! Sobretudo quando se sabe que tudo foi conquistado nos pobres laboratórios da nossa UFC, incrustada em um dos estados mais pobres do Brasil. Quanta ousadia!
Mas enganam-se aqueles que imaginarem que a seminal contribuição do Professor Parente esgotou-se no registro da patente. Nós maranhenses devemos muito ao trabalho desse cientista. A contribuição dele foi fundamental para o reconhecimento do nosso babaçu como uma importante fonte de biodiesel. Mas não apenas isso. Demonstrou que o endocarpo do babaçu, também se constitui em importante fonte de energia renovável com elevado poder calorífico. A relevância dessa sacada tecnológica é que, sob esta forma de uso, o babaçu pode poupar milhares de árvores que virarão lenha ou carvão vegetal.
A palmeira de babaçu é uma riqueza que a natureza nos dá gratuitamente. Até hoje não tem um trabalho feito no estado ou em qualquer lugar, que domestique a palmeira, viabilizando o seu cultivo racional, antecipando o seu ciclo produtivo, fazendo seleção de cultivares que produzam mais frutos. Ao contrário, o que se observa é uma destruição de vastas áreas com as palmeiras. Grandes criadores de gado derrubam-nas para transformá-las em imensas áreas de pastagens, sem qualquer proteção ou cobertura arbórea para os animais que pastam sob um sol inclemente. Os agricultores familiares também contribuem na devastação da palmeira, ateando fogo nas capoeiras par fazerem os seus roçados.
Não fora o trabalho das quebradeiras de coco e de entidades como a ASSEMA que atua no Médio Mearim, o desastre com as palmeiras de babaçu seria muito mais intenso. O trabalho do Professor Parente, que precisa urgentemente ser resgatado pelos estudiosos do nosso estado, mostra que poderemos dar destinos muito mais nobres para as palmeiras de babaçu. Ele demonstrou que além de fonte de energia, o endocarpo do babaçu, devidamente preparado, pode ser utilizado como matéria prima para a produção de laminados que substituem a madeira na produção de móveis. Ficou demonstrado que esses laminados tem resistência equivalente aos compensados de mesma espessura produzidos, por exemplo, a partir da maçaranduba, uma das madeiras mais resistentes e nobres da natureza.
Um grande legado deixado pelo Professor Parente. Ele passa a integrar a galeria de brasileiros que passaram pelo planeta e deixaram uma efetiva e definitiva contribuição para o progresso da humanidade. Nós Nordestinos, em geral, e os cearenses, em particular, precisamos nos orgulhar e reverenciar a sua memória e multiplicar o seu trabalho seminal.