As Nações Unidas criaram em 1990 o conceito de desenvolvimento humano que afere a qualidade de vida dos povos. O conceito é constituído de três indicadores: longevidade, escolaridade e renda.
Uma característica observada praticamente no mundo inteiro é que as mulheres, tem vida mais longa que os homens. No Brasil a expectativa de vida dos homens é de 72 anos, enquanto a das mulheres é de 78 anos. Em qualquer grupo de idosos, sempre encontraremos mais mulheres do que homens. Há mais viúvas do que viúvos.
Que prováveis razões levariam as mulheres a viverem, em média, mais do que os homens? Algumas delas é o estilo mais comedido de vida. No geral usam menos álcool e tabaco. São menos impetuosas, mais seguras e menos ousadas ao volante. Quando ocorrem acidentes violentos com mortes e mutilações, quase sempre são homens que estavam ao volante. As mulheres cuidam mais da saúde. Os consultórios de Ginecologia estão sempre repletos. Os homens apenas procuram urologistas quando já estão com problemas explícitos de disfunção da próstata, com incontinência urinária. Buscam o cardiologista quando já estão enfartando ou às vésperas de um AVC.
Mas, apesar de todas as evidencias e comportamentos, as mulheres são tidas como “sexo frágil”. Como pode ser frágil um ser que é o responsável pela vida de todos nós? Que nos gera e cultua no seu ventre por longos nove meses? Que assume a “deformação” (que paradoxalmente as torna mais bonitas) durante todo esse tempo?
Nas artes em geral, e no cancioneiro popular em particular, encontraremos uma vasta quantidade de musicas que tentaram ressaltar a importância das mulheres na vida de todos nós. Alguns desses trabalhos pecam fazendo uma avaliação irreal do verdadeiro papel das mulheres em todos os tempos no mundo inteiro.
No Brasil foram tratadas como “Rainhas dos Lares”, uma forma sutil de sugerir submissão das mulheres aos homens. Submissão que, infelizmente é real em pleno terceiro milênio. Caso procuremos, não será difícil encontrar mulheres (muitas até bem esclarecidas e bem escoladas) que são verdadeiras escravas dos seus companheiros. Experimentam todos os tipos de constrangimentos, assédios e abusos. Os companheiros as proíbem de dirigirem (quando as famílias têm carro). Monitoram os seus passos. Controlam os seus contatos tanto telefônicos como nas redes sociais. Impõem-lhes e selecionam as amizades que, no geral, não podem ser masculinas. Controlam até a forma de vestir. Tudo tem que passar pelo seu crivo. Não raro, quando os seus “argumentos” não são seguidos pelas mulheres partem para a violência física com os desfechos que sabemos e que a crônica policial está abarrotada diariamente.
Esse comportamento discriminatório em relação à mulher é universal. Mas existem locais em que é mais exacerbado, porque as sociedades nesses locais são mais condescendentes, e as mulheres foram e são educadas para serem submissas aos homens. O Brasil, infelizmente está entre os países onde essa pratica é muito frequente.
Isso acontece, mesmo sabendo que esses seres são fundamentais para todos nós. A primeira mulher das nossas vidas é a nossa mãe. Mas há muitos felizardos que podem ter contado com a doçura. Leveza e a ternura de conviverem com as avós. Depois temos as mulheres que amamos como namoradas, amantes. Dos relacionamentos afetivos surgem mais mulheres decisivas nas nossas vidas: as filhas. E, se formos longevos, alcançaremos as netas. Uma sequencia de mulheres no nosso entorno que devemos amar e fazer o que há de melhor para que elas sejam felizes.
Não admitiremos que um homem que venha a ser companheiro da nossa filha a maltrate. Sairemos do sério, cometeremos até loucuras em muitos casos. Então por que teremos que agir com violência, com assédio ou constrangimento de qualquer ordem, com a mulher que está ao nosso lado? Dadas as estatísticas, mas não apenas devido a elas, é provável que nos nossos últimos momentos tenhamos essa mulher que maltratamos de formas diferentes, no nosso leito definitivo. Provavelmente ela estará com os olhos marejados e nos perdoando pelo que lhe fizemos. E ela fará tudo o que estiver ao seu alcance para tornar menos doloroso esse momento definitivo. Sofrerá mais ainda por não poder aliviar a nossa dor e nos fazer ficar por aqui por mais algum tempo, mesmo lembrando-se dos maus tratos que lhe fizemos.
Em vez desse comportamento, que chega a ser esquizofrênico, poderíamos adotar atitudes inspiradas em belas obras de arte que exaltam o papel fundamental das mulheres nas nossas vidas. Podemos buscar inspiração em um dos tantos poemas de Vinícius de Morais, a quem eu admirei em vida e continuo reverenciando depois da morte. Acho que o “Poetinha” foi um dos brasileiros que mais entenderam ou, ao menos, procuraram entender esses entes fundamentais nas nossas vidas. E deixou registrado isso na sua vasta obra. Dentre as várias poesias que ele escreveu homenageando as mulheres eu selecionei uma como desfecho para este texto, para nos ajudar a respeitar e amar mais as mulheres. Todas elas, sobretudo aquelas que estão no nosso entorno. O Poema se chama “Soneto de Contrição”, em que se ler essa beleza:
“…Não é maior o coração que a alma/ Nem melhor a presença que a saudade/ Só te amar é divino, e sentir calma…/ E é uma calma tão feita de humildade/ Que tão mais te soubesse pertencida/ Menos seria eterno em tua vida.”
Que tal agirmos assim com as mulheres? Elas são as nossas Fortalezas!
* Texto para o dia 9/12/2018.