José Lemos*
Em dez anos muitas coisas acontecem. Crianças que tinham cinco anos, agora são adolescente. Quem estava com 25 anos, agora está com 35. Aqueles que já eram quarentões, agora já são cinquentões. Cinquentões se converteram a “sexies”…
Tempo suficiente para perdermos amigos que se vão precocemente (antes do combinado, como diria Rolando Boldrim). Eu perdi o meu pai e colegas de formatura.
Muitas coisas (de bom e ruim) podem acontecer nas nossas vidas numa década. As piores, obviamente são as perdas de entes queridos. Mas podemos experimentar mudanças importantes na nossa carreira profissional. Crescer como seres humanos.
Ou sucumbir diante das “facilidades” que os atalhos parecem oferecer. Podemos desconsiderar que, ao contrario de uma das leis da física que estabelece que a menor distância entre dois pontos é uma reta, na nossa vida não é bem assim. Chegar a um objetivo jamais terá trajetória linear. Precisamos ter a sabedoria dos rios de serpentear as dificuldades e sobressaltar os obstáculos. Às vezes saltando penhascos.
Os rios fazem isso com uma sabedoria incrível que até transformam essa sua saga pela “conquista” do objetivo de chegar ao oceano mais próximo, num espetáculo para todos os nossos sentidos, sobretudo o da visão. Vide as Cachoeiras do Iguaçu, no Paraná. Ou o espetáculo da Chapada das mesas em Carolina, Maranhão.
Em dez anos estamos no terceiro governo federal. Há dez anos eu, e muitos brasileiros, já havíamos entendido o equivoco que havia sido ajudar pelo voto e pelo engajamento, colocar no poder um ex-operário e o seu partido que haviam acenado lá atrás com a possibilidade de fazer diferente. Diziam que, no poder, acabariam com as práticas politicas tradicionais do coronelismo, do patrimonialismo, do clientelismos, do uso dos cofres públicos para o enriquecimento pessoal, de familiares e dos amigos.
Naquele 29 de outubro de 2006 os maranhenses experimentaram momentos de alegria até então nunca vistos no nosso estado. Naquele memorável domingo, Jackson Lago ganhou nas urnas o direito de governar o nosso estado por quatro anos (2007/2010). E o fez tendo como contendora a herdeira mais famosa da poderosa família maranhense, com o apoio de Lula. Ficou gravada na memoria dos maranhenses a famosa cena patética dele, Lula, no município de Timon, em que quase lhe arranca o braço esquerdo erguendo-o de tão entusiasmado que estava com a “canindata”.
E não era uma “canindata” qualquer. Era aquela que apenas cinco anos atrás ele chamava de adjetivos impublicáveis. Mas não apenas ela era adjetivada de forma pejorativa. Seu pai, sua família e o Senador que depois viria ser Ministro de Minas e Energia, sem sequer entender como funciona a prosaica ação de ligar um interruptor, também foram merecedores daquelas “gentilezas” que convenientemente (para todos eles) haviam sido superadas. As metamorfoses que os interesses tem o dom de prover.
Eu estava na Praça Maria Aragão no meio da multidão vivenciando aquele momento memorável. Foi bom demais ver os meus conterrâneos esperançosos de que os rumos que o Governador que saia, José Reinaldo, seria seguido por um homem íntegro. Talvez um dos mais corretos que se tem noticias neste Pais, nos dias de hoje, que está infestado de políticos que apenas pensam em se aproveitar dos cargos e do poder para fazer fortunas, como demonstram as ações da Operação Lava Jato.
Antes de tomar posse, que aconteceria na virada do ano, no dia 29 de dezembro, Jackson Lago teve a gentileza de convidar-me para ir ao seu apartamento para conversarmos sobre o seu mandato que iria começar no dia primeiro de janeiro de 2007. Eu fiquei surpreendido com o convite porque até aquele dia jamais tinha tido a oportunidade de conversar com ele. Uma conversa que teve como testemunha apenas a então Secretária dele que providenciou as condições para o encontro.
Ele me pediu um breve relato da situação agrícola do estado. Queria conhecer acerca do PRODIM. O programa de mitigação da pobreza, criado no Governo de José Reinaldo, que eu tive o privilegio de participar na concepção e na execução. Como eu acreditava conhecer alguns dos problemas mais relevantes do Maranhão, não apenas na área agrária e agrícola, ousei lhe falar de outros gargalos que precisavam maior atenção. E ele me ouviu atentamente. Uma conversa de uma hora, ou um pouco mais.
O Dr. Jackson Lago foi apeado do poder em abril de 2009. Ali sim teve golpe. Não houve participação da Assembleia Legislativa autorizando a ação do Poder Judiciário. Mas teve a alegação de que ele houvera usado poder politico e econômico. Detalhe, na época da campanha ele não tinha qualquer mandato politico. Estranhamente os Ministros, em vez de autorizar outra eleição, como seria o esperado, fizeram ascender ao poder a segunda colocada. Posteriormente ficou demonstrado que o abuso de poder econômico e politico houvera sim acontecido. Mas por parte daqueles que o acusaram.
E aqueles do Maranhão que dizem ser ilegítimo o atual Presidente, em quem votaram porque ele compunha a chapa que apoiaram, jamais abriram a boca contra aquela arbitrariedade. Os Ministros que cometeram aquele ato seguem as suas vidas de forma tranquila. Os maranhenses voltaram a mergulhar no obscurantismo por causa daquela determinação. E continuamos mais pobres do que nunca. Até quando???
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*Professor Titular e Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará.